Emigrantes voltam para Bragança e fixam-se abrindo negócios

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Qua, 17/04/2024 - 09:17


Bragança ganhou, recentemente, negócios, com filhos da terra que voltaram à região. Os ex-emigrantes não quiseram esperar pela idade de reforma e deixaram para trás a Suíça, voltando a casa

Há muitas pessoas que, perante a falta de trabalho ou os baixos ordenados, se veem obrigadas a emigrar. Foi o caso de Ludgero Afonso. Tem 37 anos e estava, desde 2011, na Suíça. Regressou a Bragança há um ano e abriu, este mês, um stand. É uma forma de estar na terra, de ter o seu próprio sustento e de trabalhar com paixões antigas. “Desde pequeno que sempre gostei de motos e carros. Tenho que admitir que se não tivesse emigrado provavelmente nunca conseguiria a estabilidade financeira necessária porque este negócio exige um investimento muito grande. O meu objectivo sempre foi abrir um negócio meu que tivesse, obviamente, a ver com veículos, que é aquilo que eu gosto. Quando se faz algo com prazer é sempre mais satisfatório”.

Ludgero Afonso admite que também decidiu voltar a Bragança porque é aqui que se sente plenamente bem. “Eu sempre quis regressar a Portugal porque nunca me senti em casa ou completamente integrado na sociedade de lá. Aprendi a língua e a cultura deles mas há muitos factores que fazem com que os emigrantes não se sintam totalmente em casa, como o clima, que é muito mais frio, assim como a mentalidade das pessoas de lá, que é completamente diferente. Decidi agora que tenho 37 anos regressar. Achei que era a altura certa. Se não viesse agora, se deixasse para mais tarde, mais dois ou três anos, talvez já esperasse até à idade de reforma”.

Ludgero Afonso abriu o “Afonso Motors” com o sobrinho, Nelson Afonso, que estuda Gestão de Empresas. Graças ao tio, o jovem não precisou de emigrar ou sair da região, como estava a prever que ia acontecer. Além disso, de ter trabalho, na região, tem o tio perto. É o dois em um perfeito. “Eu e o meu tio somos como irmãos. quando ele estava na Suíça falávamos todos os dias. E quando voltou, como sempre gostámos os dois desta área, ele já trabalhou na Suíça numa empresa de automóveis e eu já fazia alguns negócios, decidimos abrir este espaço. Isto ainda nos torna mais chegados”.

Eduardo Trigo também esteve na Suíça mas durante mais tempo. Foram 30 anos, mas o excesso de trabalho e o pouco tempo que tinha para a família fizeram-no deixar o país. Tem dois filhos e queria que eles gostassem de viver em Portugal. Assim, fizeram as malas e regressaram a Trás-os-Montes, até porque considera que aqui a qualidade de vida não se compara. “Em primeiro lugar, aqui temos mais segurança. A Suíça também é um país muito seguro mas, nos transportes públicos, fui várias vezes agredido, fisicamente, e verbalmente era todos os dias… Trabalhávamos 24h sobre 24h, sete dias por semana. E isso fartou-nos. Deu-nos muito cabo da cabeça. Estávamos fartos da vida que tínhamos. Apesar de ter termos grandes salários e grande vida isso não compensava”.

Apesar de ser de Vila Flor, vive em Bragança onde abriu o café “Beira Rio”. O negócio está a correr melhor do esperavam. Mas reconhece que é difícil viver em Portugal nos tempos que correm. Se fosse pelo salário “nunca” voltaria, mas a tranquilidade que aqui tem sobrepõe-se. “Aqui não se consegue ganhar para viver. Nós conseguimos viver aqui mas nem toda a gente consegue. Quando uma pessoa está habituada a ganhar bem é muito complicado ganhar pouco. Todo o salário, nem que seja bom, parece pouco e isso é muito complicado mentalmente mas a decisão estava sempre tomada. Os meninos estavam perto dos avós. Temos aqui família. Os meus pais vieram embora. Cada vez mais tínhamos lá menos família. A saudade também nos fez voltar”.

Ludgero Afonso e Eduardo Trigo deixaram a vida financeira mais estável da Suíça porque a qualidade de vida em Portugal falou mais alto.

Para voltar à região, os ex-emigrantes abriram o próprio negócio, de forma a ganhar um ordenado mais simpático, como acontece quando se está fora de Portugal.

Escrito por Brigantia

Jornalista: 
Carina Alves / Ângela Pais