Qua, 28/12/2011 - 09:23
Vítor Alves diz que apenas está a respeitar uma decisão da ARS Norte.“A informação foi veiculada pela ARS de que não haveria renovação das aquisições de serviços que estavam a ser prorrogadas mês a mês” explica Vítor Alves, salientando que “ a mesma informação dizia que a situação tinha sido endossada ao Ministério da Saúde mas não posso fazer nenhuma previsão sobre o tempo que isso demora”. No total, na área de abrangência do ACES Nordeste - 15 centros de saúde do distrito de Bragança e serviços de urgência básica de Mogadouro, Vila Nova de Foz Coa e Macedo de Cavaleiros - são 179 pessoas que vão ficar no desemprego, 123 das quais são auxiliares Os restantes 56 contratados são administrativos, médicos, técnicos superiores de saúde, fisioterapeutas, radiologistas e outros especialistas. Vítor Alves reconhece que algumas unidades de saúde podem vir a ter constrangimentos nos serviços. O caso mais grave será o Serviço de Urgência Básica de Vila Nova de Foz Côa, já que o apoio administrativo e o serviço de RX apenas estão assegurados por pessoal contratado em regime de aquisição de serviços.“Há serviços que ficam em causa como por exemplo o Serviço de Urgência Básica de Vila Nova de Foz Côa em que fisioterapeutas, auxiliares e radiologia estão nessa modalidade. Se não for encontrada alternativa, tecnicamente ficam em causa” admite o responsável. “No geral há um conjunto de situação nos diversos centros de saúde, mas este é o mais grave” acrescenta.O director do ACES Nordeste adianta que estão a ser desenvolvidas diligências junto do Ministério da Saúde sobre o tratamento a dispensar aos contratos de prestação de serviços. Este parece ser o final infeliz de uma novela que já se prolonga desde o início do ano. O pessoal contratado em regime de aquisição de serviços tem vivido uma enorme angústia com a prorrogação de contrato a acontecer de dois em dois meses ou até todos os meses. Com esta decisão, quase duas centenas de pessoas vão ficar desempregadas e muitas delas sem outra fonte de rendimento, não lhes resta outra alternativa senão pedir ajuda aos familiares. É o caso de duas funcionárias do centro de saúde Nº1 de Mirandela.Carla Dias, 35 anos, assistente administrativa há quatros anos no centro de saúde Nº 1 de Mirandela. O contrato em regime de prestação de serviço foi sendo prorrogado, mas confessa que já estava à espera que este fosse o desfecho final.“Não é nada que eu não estivesse já à espera porque os nossos contratos são renovados mensalmente. Estamos sempre á espera do fim do mês para sabermos o que nos vai acontecer porque ninguém no avisa com a devida antecedência” refere.De um momento para o outro, Carla deixa de poder contar com o seu salário mensal. Divorciada e com uma filha de sete anos, Carla Dias não esconde que o futuro não é nada risonho e admite que terá de recorrer aos familiares para poder sobreviver.“Não sei como vai ser porque não é fácil. Para já vou tentar o subsídio de desemprego e depois vou entregar currículos. Tenho uma filha para criar que só conta mesmo comigo, por isso terei de pedir ajuda a familiares” confessa.E como um problema nunca vem só, Carla ainda não sabe se tem direito o subsídio de desemprego devido a um imbróglio jurídico que envolve uma pseudo empresa de prestação de serviços e a segurança social. Outro caso: Catarina Possacos, 25 anos, natural de Alfândega da Fé. Esta jovem cardio-pneumologista, é uma das três especialistas em electrocardiogramas, espirometrias e mapas, que trabalham nos centros de saúde do distrito. Exerce funções há dois anos e meio no centro de saúde Nº1 de Mirandela e está a realizar o mestrado na área. Está desiludida com a notícia da dispensa e indignada porque considera que nos últimos meses tem sido tratada como um simples objecto.“Sinto-me constrangida pela maneira como me têm tratado nos últimos tempos porque é completamente desumano, sem dignidade e consideração pelas pessoas que exercem estas funções. Nós temos sido objectos de trabalho” refere.Catarina está mentalizada que vai ter de bater a várias portas para conseguir emprego nesta ou em outra área. Até conseguir novo emprego, a jovem cardio-pneumologista, solteira, terá de recorrer à ajuda financeira dos pais.“Vou ter de pedir a ajuda dos meus pais e começar a bater de porta em porta à procura de trabalho e se não conseguir na minha área vou ter de aproveitar noutra. Ainda por cima estou a terminar o mestrado que me dá ainda mais despesa” afirma.Como se não bastasse, Catarina Possacos tem cerca de 5 mil euros de ajudas de custo por receber. São apenas dois casos reais das consequências da dispensa de cerca de duas centenas de funcionários do ACES Nordeste.
Confrontada com este caso, a ARS Norte respondeu por escrito, referindo apenas que solicitou com carácter de urgência ao director do ACES Nordeste e ao presidente do conselho clínico uma avaliação dos serviços que ficam em causa, se não se mantiverem os postos de trabalho do pessoal contratado em regime de aquisição de serviços. Só depois poderão ser tomadas decisões definitivas.
Escrito por CIR