Antiga estação ferroviária de Mirandela transformada em casa de arte e cultura num investimento de 2,5 milhões de euros

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Qui, 26/09/2024 - 09:01


A antiga estação ferroviária de Mirandela, inaugurada há 137 anos, foi agora transformada em casa de arte e cultura, se bem que o piso zero está preparado para ser utilizado para a mobilidade da linha do Tua, que ainda continua por implementar

Já estão concluídas as obras de requalificação daquele imóvel emblemático, que tinha vindo a degradar-se, sobretudo, desde a desativação da linha ferroviária entre Mirandela e Bragança, em 1991.

“Pelo peso histórico que a estação transmite a todos os mirandelenses, não podia ficar votada ao abandono, pelo que esta era uma obra prioritária”, sublinha a presidente do Município, Júlia Rodrigues.

Trata-se de um investimento do Município de 2,5 milhões de euros, comparticipado em 85% por fundos comunitários do Norte 2020, que só foi possível realizar depois de, em 2019, a câmara e a Infraestruturas de Portugal terem celebrado um contrato de comodato que garante ao Município o usufruto do edifício e terrenos envolventes por um período de 50 anos.

Para a presidente da autarquia, com esta requalificação “cumprimos o que esteve ao alcance das nossas possibilidades”, e exige agora, “com mais um motivo válido, a reabertura da Linha do Tua e da execução do seu plano de mobilidade”, adianta.

“Numa altura em que o país e a europa voltam a valorizar a ferrovia, torna-se impensável que Mirandela e a região fiquem de fora do Plano Ferroviário Nacional”, afirma a autarca socialista.

Ontem, ao final da tarde, aconteceu a cerimónia de inauguração da Estação, em simultâneo com a abertura da exposição "Com a Casa às Costas" com obras da Coleção de Serralves e do Fundo Documental da Estação de Mirandela, bem como a abertura do Festival Literário de Arte e Letras.

EX-MORADORA RECORDA AS MEMÓRIAS

Na antiga estação da CP de Mirandela, chegaram a viver várias famílias de trabalhadores ferroviários. Foi o caso de Graciete Jerónimo, filha de um antigo chefe da estação.

Ali viveu entre 1966 e 1976, dos 12 e os 22 anos de idade. Graciete recorda memórias felizes. “Lembra-me de eu e a minha irmã nos sentarmos naquelas escadas a ler os livros do Crime do Padre Amaro, os livros da Sara Beirão e as vizinhas a trabalharem nas suas rendas. Na cozinha, havia uma janela que dava para o telhado e era para lá que ia várias vezes a estudar”, diz.

Em cada canto da renovada estação da CP, Graciete descreve as diferenças daquilo que existia no passado. “Vivi no último andar, mas havia várias famílias nos diversos andares e no primeiro andar é que havia uma família de um lado e do outro havia escritórios e dormitórios”, conta.

Graciete Jerónimo recorda com emoção os momentos de felicidade e de convívio que viveu naquele edifício emblemático durante uma década. “Fizemos aqui muitas festas, porque a família que vivia na parte do restaurante também tinha um grande salão e a cada passo fazíamos convívios, era tudo muito unido e foi muito bom”, refere com emoção.

A viver em Mirandela, Graciete diz estar feliz com o resultado desta intervenção, porque confessa que lhe partia o coração ver diariamente o edifício a degredar-se.

Agora, a ex-moradora da antiga estação da CP deixa um desejo: “Gostava de ver também na parte exterior uma máquina de caminho-de-ferro, porque quando foram festejados os cem anos da linha” (em 1987) “prometeram uma máquina para Mirandela, mas até à data ainda não chegou. Gostaria de a ver lá”.

Um desejo de quem chegou a viver na antiga estação da CP de Mirandela, entre 1966 e 1976.

Escrito por Terra Quente (CIR)