Seg, 13/12/2010 - 09:20
João dos Santos, 71 anos, ainda cá está para contar a história. Mas podia não estar, como aconteceu a centenas de agricultores por todo o país mortos em acidentes de tractor.
Este agricultor de Seixo de Manhoses, Vila Flor, recorda com mágoa o quase trágico dia 27 de Maio de 2000.
“Andava a lavrar num terreno inclinado, abusei e quando fui a ver estava debaixo dele. Rebentou-me as costelas e tórax” conta.
Apesar de ficar traumatizado, João dos Santos não deixou de ter tractor e de continuar a trabalhar com ele.
“Tinha dois tractores e resolvi trocá-los por outro” refere, salientando que “ganhei-lhe muito medo. Para mim terminou porque eu sofri muito”.
João dos Santos reconhece que abusou do tractor, caso contrário não teria tido o acidente que quase o matava. Na sua opinião é esse o problema de quase todos.
“É o que acontece quando a gente abusa deles. Se eu não abusasse dele, o tractor não se virava” conta. “Eu acelerei-o, levantei-lhe o escarificador e ele veio para trás e virou-se logo. Não tive hipótese” recorda.
O vizinho de João dos Santos, Américo Meireles, 69 anos, já sofreu dois acidentes de tractor.
“Tive um em 1985 e outro em 2003” refere. “No primeiro, andava a lavar uma propriedade minha e por um pequeno descuido estalou-se-me o escarificador numa oliveira. O tractor levantou a frente, estava um bocado inclinado e tombou para o lado e partiu-me a perna direita” conta. Américo Meireles entende que “os tractores são feitos para trabalhar em certos terrenos e as pessoas é que os obrigam a trabalhar em terrenos que não devem” salientando ainda que “é um animal e que não conhece o dono”.
Os tractores agrícolas são máquinas que não conhecem o dono e não que não toleram abusos.
Por causa do número de vítimas mortais em acidentes de tractor, o Parlamento aprovou recentemente, por unanimidade, um projecto de resolução do PCP que recomenda ao Governo que avance com um pacote de medidas para travar os acidentes com tractores e que inclui um programa de renovação e reequipamento das explorações agrícolas.
Escrito por CIR