Ter, 23/11/2010 - 18:35
Jorge Augusto Ala é o presidente da Junta de Freguesia de Carragosa, uma aldeia situada bem perto do coração do Parque Natural de Montesinho e o berço da família envenenada. Apreciador de cogumelos diz que, agora, vai pensar duas vezes antes de os voltar a comer.
“Faz parte daqui das ementas. Na altura dos cogumelos toda a gente vai a eles para alimento. Ao rubió prefiro-o à carne. Até agora nunca tive receio mas quando aparecem estes casos ficamos chocados. A minha filha disse logo que não quer mais cogumelos.”
Apesar de, pontualmente, ocorrerem envenenamentos acidentais com cogumelos venenosos no distrito de Bragança, nenhum foi tão grave como o que atingiu a aldeia de Baçal, também no Parque Natural de Montesinho, há 26 anos.
Manuel Ernesto Rodrigues mora mesmo em frente à casa onde tudo aconteceu.
“Foi em Outubro de 1986. Foram à sementeira, trouxeram-nos e depois cada um disse sua coisa. Ou que vinham envenenados ou que os trouxeram no saco do adubo. O que sei é que morreram todos. Durante algum tempo ninguém aqui na aldeia os comia mas agora voltam a eles.”
Mas em Baçal mora também uma das maiores apreciadoras e apanhadoras de cogumelos da região.
Olga Mariz costuma fazer as delícias de família e vizinhos. Mas diz que este incidente com a família de Carragosa foi a gota de água e já não confia mais na sorte.
“Há os níscaros, que a pele sai toda. Tiro tudo, da parte de baixo e de cima. As pinheiras raspo-as todas. Depois ponho em água abundante com vinagre e ponho a escaldar com dentes de alho. Dizem que se o alho fica branquinho os cogumelos estão bons. Também com uma colher de prata. Se não mudar de cor, são bons.”
O Parque Natural de Montesinho é o único do país que regulamentou já há dois anos a apanha de cogumelos.
De acordo com a agência Lusa, é uma actividade que pode ser equiparada ao mais grave crime ambiental e dar origem a uma multa que pode chegar aos 20 mil euros.
Expressamente proibido dentro do Parque é apanhar cogumelos para venda.
Mesmo assim, estima-se que saiam de toda a região entre 30 a 40 toneladas de cogumelos por ano, colhidos por grupos de pessoas que os vendem a intermediários espanhóis.
Olga Mariz apanha cogumelos para consumo próprio mas, mesmo assim, diz que Portugal poderia copiar aquilo que acontece noutros países para garantir a segurança das pessoas.
“Na Suíça estão às saídas das montanhas pessoas a analisá-los a ver se são comestíveis. Em Bragança devia haver um local onde os pudéssemos analisar.”
Escrito por Brigantia