Urgência de Mirandela vai perder estatuto médico-cirúrgico

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Qui, 07/10/2010 - 11:48


A urgência de Mirandela vai deixar de ter um médico de prevenção entre as 14 e as 24 horas, mantendo o mesmo regime que vigorou durante as férias de Verão. A proposta já foi feita pela cirurgia à Administração, que deverá dar o seu aval.

Mas o director do serviço de cirurgia do CHNE, António Ferrão, garante a prestação de cuidados aos mirandelenses.

  “O que fizemos foi pegar nos poucos meios humanos que temos e transformar duas urgências más numa boa, transformando a outra naquilo que de facto é, um serviço de atendimento base, onde os doentes do foro cirúrgico são vistos, como até aqui, por um médico em presença física 24 horas, 365 dias por ano. A diferença é que não temos o tal médico de prevenção, entre as 14 e as 24 horas. Conseguimos pôr assim dois médicos em presença física 24 horas em Bragança, melhorando o atendimento em Bragança para uma verdadeira urgência cirúrgica. Mas porquê Bragança e não Mirandela? A mim tanto faz uma ou outra porque eu sou do Porto.”

 O director do serviço de Cirurgia do Centro Hospitalar do Nordeste diz que a decisão foi tomada por falta de condições do serviço em Mirandela.  

“O problema é que uma urgência médico-cirúrgica tem de ter outras coisas à volta dela e a urgência de Mirandela não tem. Mais importante de tudo, não tem intensivismo nem ortotraumatologia, não pode tratar doentes traumáticos. Por outro lado não se pode pedir a meia dúzia de médicos que a sustentem 24 sobre 24 horas, porque isso obriga a que estejam dia sim, dia não de urgência.”

 

António Ferrão vai mais longe e diz que seria um “acto criminoso” manter a cirurgia aberta nas condições em que estava.

 

“Se puserem tudo e Mirandela e fecharem em Bragança, para mim é igual. Estou a dizer que neste momento Mirandela não tem condições para manter a urgência aberta. É um acto criminoso dizer que é uma urgência médico-cirúrgica quando do ponto de vista legal, não é. Dá ideia falsa à população de uma segurança que não tem. Tudo isto porque as pessoas sabem pouco disto e têm outros interesses por trás, sociais, económicos, políticos, familiares, e não querem ver a verdade.”

 

A urgência de Mirandela foi desactivada no início do Verão. Na altura, apontava-se para uma solução provisória, durante as férias do pessoal médico. No entanto, o encerramento deverá mesmo ser definitivo.

 

António Ferrão baseia esta decisão num parecer, de carácter vinculativo, da Ordem dos Médicos, e a que a Brigantia teve acesso.

 

No documento lê-se que a situação existente em Mirandela fazia pressupor “a intenção de violar de forma grave as regras já definidas, com risco inaceitável para a segurança do doente”.

 Mas não só.

“Baseia-se também numa análise rigorosa dos três meses de actividade que por norma são os piores, por serem das festas populares, dos imigrantes, dos acidentes, enfim, as condições péssimas. Vieram 23 doentes transferidos e nenhum correu qualquer risco na transferência. Deu a média de 0,23 doentes por dia. Alguém pode entender que se mantenha uma urgência aberta, a pagar horas extraordinárias a médicos, anestesistas, enfermeiros, auxiliares, a funcionar uma máquina pesadíssima porque se pagam horas extraordinárias em regime nocturno e fim-de-semana, para se transferir, porque os outros foram todos lá tratados, centenas e centenas de pacientes.”

 A proposta já foi feita à Administração do CHNE, que se deverá pronunciar nos próximos dias.

   

Para além disso, António Ferrão recorda uma reunião com todos os médicos em que o assunto foi votado. Nessa altura a decisão teve o apoio de mais de dois terços dos médicos, incluindo três dos seis cirurgiões que prestam serviço em Mirandela.

 

Nesta altura, o Tribunal Fiscal e Administrativo da cidade do Tua aprecia ainda uma providência cautelar interposta pelo presidente da Câmara, José Silvano, que está contra o encerramento das urgências e denuncia o alegado incumprimento de um protocolo assinado entre a câmara e a ARS Norte.

 

Mas o CHNE acusa também a câmara de nunca ter cumprido a sua parte do acordo, nomeadamente com a construção de um heliporto, onde o helicóptero do INEM possa aterrar de dia e de noite.

 

 

Escrito por Brigantia