Trabalho escravo vai a julgamento

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Ter, 17/08/2010 - 09:24


O Tribunal de Instrução Criminal do Porto encaminhou para julgamento o caso de trabalho escravo, que envolvia 13 “clãs” que recrutavam trabalhadores em Portugal para trabalhar na agricultura em Espanha. Pelo menos sete desses clãs eram compostos por famílias do Nordeste Transmontano.  

58 pessoas estão a ser acusadas de angariar 65 desempregados, com debilidades mentais ou com dependências e de os forçarem a trabalhar em Espanha, muitos deles em condições desumanas.

Estes clãs, ou grupos de angariadores de mão-de-obra, eram compostos por núcleos familiares de pequena dimensão, com uma hierarquia estabelecida e alguns deles tinham residência oficial em municípios transmontanos: Alfândega, Bragança, Chaves, Mirandela, Murça, Torre de Moncorvo e Vila Flor fazem parte da lista dos 13.

  

O estratagema era comum a todos os clãs.

Angariavam, controlavam e exploravam os trabalhadores e cada “chefe” definia a sua área de intervenção.

Havia angariadores-trabalhadores, aqueles que recebiam contrapartidas pela angariação e controlavam os trabalhadores no campo e os angariadores-intermediários, que apenas recrutavam e transportavam para Espanha.

Eram estes últimos os proprietários dos imóveis degradados e mal equipados que albergavam os trabalhadores.

 

Tomar banho acontecia apenas uma vez por semana, e com água do rio, a alimentação era feita à base de conservas fora do prazo e as necessidades eram feitas na mata.

Muitos chegaram a dormir em barracas de paus e plásticos, ou em varandas ao relento.

 

Quando exigiram o salário foi-lhes pago 20 euros e dito que o restante seria para pagar transporte, alojamento e alimentação.

A investigação remonta já a 1997 e o seu caminhar é lento porque a maior parte dos que conseguem fugir está em parte incerta e não testemunha a situação com medo de represálias.

 

Doze anos o caso vai a julgamento.

Ainda não é conhecida a data para o início do julgamento, mas a acusação já está deduzida e o caso vai mesmo chegar à barra do tribunal.

Escrito por CIR