Trabalhadores do matadouro do Cachão paralisaram em protesto contra salário em atraso

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Ter, 17/08/2010 - 09:36


O matadouro do Cachão não funcionou, ontem devido à paralisação de todos os trabalhadores da unidade de abate, alegando o atraso no pagamento dos salários do mês de Julho e a falta de explicações por parte da administração. Os 48 trabalhadores compareceram no matadouro e apesar de envergarem o vestuário habitual que utilizam naquela unidade decidiram não proceder ao abate das mais de duas centenas de animais que estavam marcadas para o primeiro dia da semana.  

Depois de alguns atrasos no pagamento dos salários dos últimos meses, os trabalhadores da unidade de abate estão mais preocupados com o atraso do salário do mês de Julho.

Indignados com a alegada falta de respostas da administração, decidiram tomar esta posição.

“Ninguém recebeu o mês de Julho e então o pessoal optou por não fazer o abate e estamos à espera que isto seja resolvido” explica o porta-voz dos 48 trabalhadores, acrescentando que “há um mês ou dois que recebemos com atraso, mas desta vez já é mais tempo”.

Henrique Afonso revela mesmo que esta tomada de posição já tinha sido comunicada à administração na semana passada, mas até agora ninguém deu qualquer explicação sobre este atraso e para quando a resolução do problema.

“Não vejo por aí ninguém a não ser a directora de pessoal. Ninguém nos dá explicações do caso” afirma.

 

O administrador delegado da Agro-Industrial do Nordeste (AIN), responsável pela gestão do matadouro do Cachão confirma o atraso no pagamento dos salários do mês de Julho, mas diz que precisa apenas de três dias para garantir os ordenados aos 48 trabalhadores. “Nós já temos o dinheiro para pagar, houve um atraso devido à época de férias” explica. “Esta semana regularizamos a situação” garante.

António Mendonça considera que não havia necessidade de enveredar por uma situação tão radical como esta. “Eu sei que é dramático, mas não havia razão para uma atitude tão radical”.

 

António Mendonça admite que a situação financeira é delicada, dado que o matadouro tem vindo a apresentar resultados negativos, fruto de uma crescente diminuição da actividade, provocada pelo aumento do consumo na região de carne importada, nomeadamente de Espanha, da instalação de grandes superfícies comerciais na zona que se abastecem a partir de centrais de compras em detrimento do mercado regional, mas sobretudo porque entraram em funcionamento novas unidades de abate em Vinhais, Bragança e Miranda do Douro, quando o matadouro do Cachão foi construído com o intuito de abastecer toda a região transmontana.

 

Recorde-se que a AIN, com o capital social repartido pelas câmaras de Mirandela e Vila Flor, adquiriu o matadouro, há quatro anos, à PEC Nordeste, um negócio que envolveu 400 mil euros.

No entanto, a intenção era realizar alguns investimentos para modernizar o matadouro e a criação de uma empresa de salsicharia, mas os projectos não foram avante por falta de apoio do QREN.

 

António Mendonça revela que está a encetar negociações com um privado para entregar a gestão e funcionamento da unidade de abate, que estão a ser dificultadas pela crise da banca e da economia em geral.

“Temos o projecto já aprovado e pensávamos que iríamos ter algum apoio do QREN mas não foi possível em virtude de ser uma entidade maioritariamente de capitais públicos” refere. Por isso “a segunda opção foi interessar provados na gestão e funcionamento do matadouro e já está tudo desenvolvido para que mal se entregue a gestão se comecem a fazer esse investimentos” revela. “Só que a crise dos bancos e da economia em geral dificulta a resolução destas situações” acrescenta.

 

Caso estas negociações falhem, o administrador da AIN admite o cenário de encerramento do matadouro, apesar de ressalvar que será sempre a último caminho a enveredar.

Escrito por CIR