Relatório sobre acidente da Linha do Tua afasta hipótese de erro humano

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Ter, 28/10/2008 - 10:47


A conjugação de defeitos grosseiros na via-férrea e anomalias na composição do Metro de Mirandela terão sido os factores que levaram ao acidente na linha do Tua, do passado dia 22 de Agosto. São as principais conclusões do relatório final do inquérito já disponível na página electrónica do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, que afastam o cenário de erro humano.

Diferentes pareceres solicitados pela Comissão Técnica de Inquérito apontam no mesmo sentido. Problemas ao longo da infra-estrutura, com particular incidência no local do acidente, e as deficiências que dificultam o contacto entre a roda e o carril. Nas conclusões, existe unanimidade de que a via apresenta defeitos grosseiros e facilmente identificáveis e suficientes para justificar a ocorrência do descarrilamento, nomeadamente uma curva com medidas desadequadas, defeitos de alinhamento, de empeno, bem como travessas que necessitam de substituição imediata.

 

Do relatório concluiu-se ainda que há 18 anos que as travessas não são substituídas e algumas já terão cerca de 40 anos. Os pareceres apontam também falhas às automotoras do Metro de Mirandela, onde é referido que as suas características são desadequadas, assinalando problemas nas rodas, falta de lubrificação e pouco amortecimento, com a suspensão demasiado pesada.

 

A equipa da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, uma das entidades a quem a comissão técnica de inquérito solicitou parecer, considera que todos estes factores conjugados são motivo para a ocorrência deste acidente, que causou um morto e dezenas de feridos, acrescentando que os valores elevados de empeno da via dão lugar fundamentalmente a um movimento de balanço dos veículos e, quando combinados com irregularidades do alinhamento da via e anomalias na suspensão dos veículos, são a causa mais frequente de descarrilamento especialmente a baixas velocidades, explica a equipa coordenada por Raimundo Delgado. Daqui se depreende que não houve erro humano neste acidente, até porque a comissão técnica de inquérito conseguiu apurar que a automotora seguia a uma velocidade de 38 quilómetros por hora, na altura do descarrilamento.

 

Recorde-se que esta composição e o maquinista tinham sido os mesmos intervenientes no acidente que aconteceu no início do mês de Junho, deste ano, mas na altura causou apenas dois feridos ligeiros. Também no relatório final ficou afastada a hipótese de sabotagem, segundo concluiu a Policia Judiciária que participou nas investigações. O relatório final faz ainda referência aos 17 minutos que um passageiro teve de percorrer a pé até encontrar rede telemóvel para chamar socorro, numa zona onde não há comunicações e o único telefone existente na automotora ficou inoperacional no acidente.

 

O relatório final faz ainda várias recomendações que levaram o ministro Mário Lino a determinar a concepção e concretização de um plano com as "necessárias medidas correctivas". Entre estas recomendações, destaca-se a necessidade de identificar as alterações a fazer às carruagens ou às características da frota, a definição de regulamentação e normativos técnicos a aplicar nas infra-estruturas de via estreita, a elaboração de um plano de intervenção na linha e de um plano integrado de manutenção e monitorização da Linha do Tua, abrangendo as carruagens e a via.

A coordenação deste plano é entregue ao IMTT (Instituto da Mobilidade e Transportes Terrestres) que tem 15 dias para apresentar “um cronograma detalhado para a concepção e concretização” destas medidas. O Ministro Mário Lino determina ainda que a REFER e a CP têm um mês para realizarem averiguações internas para apuramento das causas que conduziram às anomalias identificadas. Enquanto isso, continua interdita a circulação do Metro entre o Tua e o Cachão, assegurando a CP o transporte alternativo com uma frota de 4 táxis.