Produtores do planalto mirandês admitem desistir do gado devido aos custos do chip

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Seg, 19/04/2010 - 11:00


Os produtores de ovelhas e cabras do planalto mirandês estão contra a introdução do novo sistema de identificação de animais, através de um chip. Os custos e a burocracia são os principais defeitos apontados.    

“Por um lado, parece-me bem”, diz Celso Martins. “Mas, por outro, parece-me mal, porque aqui no planalto mirandês os criadores são muito idosos e vão ter problemas porque vão ter de fazer muitos mais papéis. Também fica mais caro mas, aqui, temos a associação de criadores para pagar o sistema”, explica.

 

Mais revoltado, António Maria Neto diz que este é mais um exemplo de um problema que foi trazido pelos subsídios da União Europeia. “Estamos a ver que o gado não é nosso, nem mandamos nas propriedades. À conta do subsídio, não podemos lavrar como nós queremos, não podemos deitar estrume nas terras nem semear como queremos. É uma miséria”, lamenta.

 Já Ramiro Domingues, criador com mais de 400 cabeças de gado, vê apenas um problema. “É a questão do preço. Vinte euros por animal é muito. Tenho 400 animais o que dá oito mil euros, 1600 contos em moeda antiga. E o animal não os vale. Nalguns casos, temos de pôr o chip no refugo, que só nos o pagam a cinco euros cada animal”, explica. Por isso, acredita que “é mais um passo que se dá a caminho do fim”.

Muitos produtores admitem mesmo vir a deixar de criar ovelhas.

 

“Ao custo a que estão hoje as rações, o preço dos cordeiros, que é o mesmo há 20 anos, e o preço dos combustíveis, não é rentável”, explica Celso Martins. Por isso garante que vai “acabar”. “Terminando o contrato com o Inga, vou acabar”, garante. Já António Maria Neves sublinha que “não dá para viver disto, a coisa está muito ruim”. “Só andamos pelo vício de andar atrás delas”, diz. No entanto, admite que não vai acabar com as poucas ovelhas que tem pois “parar é morrer”. “Depois metia-me em casa e não fazia nada e estou habituado desde garoto a andar nesta vida.” Por sua vez, José Luís admite que está “a pensar nisso [acabar com a produção]”. “Estou só a aguentar por causa dos contratos”, explica. Já Cândido Alves revela que diminuiu muito o seu efectivo. “Já quase acabei com elas. Tinha 200 agora só tenho umas 30”, revela, desalentado.

 

No entanto, o presidente da Associação de Criadores de Raça Churra Galega Mirandesa, que acolhe cerca de 80 produtores, com um efectivo de mais de oito mil animais, acredita na continuidade da raça.

 

Ontem realizou-se o 15.º concurso da Raça Churra Galega Mirandesa, que juntou 23 produtores – menos cinco do que no ano passado – mas o mesmo efectivo, cerca de 70 animais que, segundo o presidente da associação da raça, têm cada vez mais qualidade.

 Por isso, Francisco Rodrigues não admite que a introdução de chips acabe com a produção de ovelhas.

“Não acredito muito nisso porque há outras contrapartidas no meio de tudo isto. Antigamente também se fazia recolha de sangue e tudo se paga. Agora, a identificação electrónica traz mais valias. Deixa de haver perda de brincos e há determinados trabalhos que deixam de se fazer”, explica.

 

Francisco Rodrigues admite também que este novo sistema de identificação vai ajudar a acabar com algumas fraudes.

 

“É verdade. Havia diversos trabalhos que não eram os mais agradáveis para a saúde pública. Animais que morriam e se deixavam abandonados. Lá se encarregariam os abutres de os comer. Mas isso vai deixar de existir, até porque a recolha dos cadáveres é dispendiosa. Agora, a importação clandestina de animais, que muitas vezes vinham contaminar os animais bons com doenças, vai acabar”, sublinha.

 Já Artur Nunes, o presidente da câmara de Miranda do Douro, diz que é o consumidor a ter de suportar o valor deste novo sistema.

“Ao nível da produção há que fazer melhorias e o mercado vai ter de ajustar estas exigências, que são da União Europeia. O que se pretende é uma melhor qualidade e um melhor controlo da raça”, diz.No entanto, apesar de garantir estarem previstas medidas de apoio à raça Churra Galega Mirandesa, admite que não haverá nenhum apoio concreto à identificação com chips. Escrito por Brigantia