Produção de azeite do Nordeste Transmontano afectada pelo mau tempo

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Qua, 20/01/2010 - 11:02


Os olivicultores transmontanos foram dos mais afectados pelo mau tempo deste Inverno e já há mesmo quem fale em quebras de 50 por cento na produção.  

Para além de produtor, José Rodrigues é também o único proprietário do único lagar de azeite da cidade de Bragança. E já há vários anos que não via uma produção tão escassa.

Já se previa uma campanha fraca mas com este temporal, metade fica nos campos, enterrada, porque nem se consegue lá entrar”, sustenta.

E para além do mau tempo, os produtores têm sofrido também com as doenças que atacam as oliveiras.

“Aqui para estes lados houve muita oliveira que secou, em Vimioso, Pinelo. Eu também tenho bastantes oliveiras, que secaram por completo e a produção ficou a zero”, conta, adiantando que, este ano, o preço do azeite está “nos 2,80 euros enquanto no ano passado se vendia a 3,5 euros”.

José Rodrigues aponta a concorrência espanhola para justificar esta quebra de 20 por cento no preço do azeite. Por causa disso, muitos produtores estão a deixar os campos ao abandono.

“Trazem desses óleos, gorduras. Habituaram-se a usar só disso e o azeite de qualidade perde mercado e a azeitona baixa de preço. Não dá sequer para a apanha, quanto mais para tratar das oliveiras. Há muitos agricultores que com 50 ou 100 euros compram azeite para todo o ano e se levarem dois homens para a apanha, não lhes chega esse dinheiro. Por isso optam por deixar a deles e vir comprar azeite”, relata este produtor.

Apesar de pouca quantidade, a qualidade do azeite deste ano está garantida.

Também a Associação de Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro (AOTAD) confirma as dificuldades dos produtores da região.

António Branco, o presidente da AOTAD, fala numa perda de 15 a 20 mil toneladas, relativamente às 90 mil que habitualmente se produzem na região.

“Este ano estamos a pensar que andaremos pelas 70 a 75 mil toneladas. Mas a campanha ainda não acabou e pode ser ainda pior. De forma global, apontamos uma redução entre os 35 e os 40 por cento. É um sucedâneo de factores, que começaram com as geadas. Mas temos azeite de qualidade e estamos esperançadas em ganhar mais alguns prémios internacionais”, adianta.

 António Branco aponta três factores para a quebra que se tem verificado e que afecta sobretudo a zona sul do concelho de Mirandela, Vila Flor e Carrazeda de Ansiães.

“Neste momento a azeitona já está madura de mais e cai, ainda mais associada a estas intempéries. Ao mesmo tempo, os terrenos estão bastante húmidos e é difícil. E na nossa região ainda existem os problemas das lavras, feitas no verão, que tornam os terrenos mais húmidos. Lavra-se demais, gasta-se muito dinheiro em gasóleo”, explica António Branco, para quem “apanhar a azeitona à mão é praticamente impossível”. “Um quilo de azeitona custa 30 cêntimos. São precisos dois para pagar um café. Para andar um dia inteiro e apanhar individualmente 50 quilos não compensa se não for mecanizado.” Por isso, “muitas pessoas já não se preocupam em ir apanhar a azeitona. Até porque muita está no chão e nem conseguem entrar nos terrenos”.

A AOTAD defende, por isso, uma alteração nos hábitos dos produtores, que passam pela mecanização e antecipação da apanha da azeitona.

Hoje, o ministro da Agricultura vai estar em Mirandela, onde vai reunir com algumas associações de agricultores.

Escrito por Brigantia