Prepara-se uma revolução grisalha na sociedade

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Seg, 01/02/2010 - 11:40


A sociedade tem de se preparar para a “Revolução Grisalha”. A convicção é de Fernando Pereira, investigador do Instituto Politécnico de Bragança na área da Gerontologia.  

“Quando começa a atingir uma franja da população de 20 por cento, quando os idosos começarem a ter consciência do poder político que têm, então, enquanto sociedade, estaremos na era da revolução grisalha. E há outro aspecto que temos de levar em linha de conta. É que os idosos que temos agora correspondem aos adultos de há 60, 70, 80 anos. Os nossos jovens actuais são muito mais exigentes, têm uma educação muito mais elevada e uma intervenção política mais eficaz. Os nossos próximos idosos vão ser muito mais interventivos. E não só as estruturas académicas mas também as políticas vão ter de se preparar para o embate.”

 Até porque, segundo aponta, no concelho de Bragança, a percentagem de população idosa chega aos 20 por cento, um número superior à média nacional.

Fernando Pereira falava à margem do congresso Luso-Espanhol de gerontologia, que na semana passada juntou mais de 400 participantes, no Instituto Politécnico de Bragança.

Um dos oradores convidados, o espanhol Florêncio Vicente, da Universidade da Estremadura, aponta grandes semelhanças entre a população dos dois lados da fronteira, e defende alterações na sociedade para lidar com essa realidade.

“Havia poucos avós e muitos netos. Agora é ao contrário. Significa que a população está a envelhecer e é preciso fazer previsões para os grupos de seniores, para que se possam auto-sustentar. É preciso tornar as cidades mais agradáveis para os mais velhos e menos para os carros. Modificar as cidades, tirar obstáculos, possibilitar os centros de dia, por exemplo.”  

E por causa do envelhecimento da população, também há novas áreas de negócio a despontar.

“Em Espanha estão a surgir muitas pequenas empresas em cuidados aos mais velhos. Lares, apoio domiciliário também. O problema é que têm pouco apoio científico. Construir um lar e ter apenas um técnico para 60 pessoas, não funciona.”

É também por haver cada vez menos jovens que surgiu o Núcleo de Investigação e Intervenção do Idoso, na escola de Saúde do IPB.

Fernando Pereira é o coordenador e sublinha o facto de Bragança ser pioneira no estudo desta área em Portugal.

“A primeira área de interesse é a investigação dura naquilo que diga respeito ao idoso e ao envelhecimento, porque a escola superior de saúde é pioneira no ensino da gerontologia em Portugal, juntamente com a Universidade de Aveiro. E depois, de intervenção. Uma segunda fase, quando o grupo começar a ter uma produção científica de relevo, pode começar a partilhar o conhecimento com os técnicos, com os idosos, com a sociedade em geral.”

Um dos primeiros projectos do Núcleo pretende estudar a população idosa do concelho de Bragança, tendo por base uma amostra de 120 pessoas.

No entanto, apesar de ainda não estar garantido o financiamento, existe já uma parceria com a Universidade Católica para alargar o estudo a todo o Norte do país.

Escrito por Brigantia