Seg, 01/03/2021 - 09:03
Quem tem afazeres do outro lado da fronteira é obrigado a passar por Quintanilha, em Bragança, estando esta fronteira aberta diariamente, ou por Miranda do Douro, onde só se passa nos dias úteis, em determinadas horas.
No sábado de manhã, espanhóis e portugueses protestaram junto à fronteira para que sejam ouvidos. Francisco Guimarães diz ter esperança que o Governo reverta a situação. “As pessoas têm as suas vidas, os seus haveres, os seus interesses económicos e comerciais e, por isso, há necessidade de se ver que a abertura deste ponto de passagem. Os trabalhadores transfronteiriços ficam a braços com os trajectos que têm que percorrer. Isto não é possível nos dias de hoje. Espero bem que, pelo menos nos oiçam. Portugal e Espanha estão aqui para que os governos dos dois países sintam que é importante a abertura da fronteira”.
Para o alcalde de Fermoselle, José Manuel Pilo, os governos não estão a ter em conta que estas zonas não são grandes centros urbanos, onde se agrava o risco de contágio e, normalmente, há mais casos de infecção. “Há uma quebra constante para os negócios de um lado e do outro. Os trabalhadores têm que realizar um circuito de quilómetros que implica tempo e custos. Os governos de Portugal e Espanha tomam decisões a quente e não se dão conta que temos uma zona deprimida, como é a zona transfronteiriça. Se temos uma densidade de população mínima não é normal que se imponham restrições deste tipo. Isto não é Madrid, não há superpopulação”.
Carlos Gomes é de Bemposta e trabalha em Fermoselle. Com o número de quilómetros a mais que tem a percorrer, tem de se levantar uma hora mais cedo e vê os gastos aumentar. “Para ir trabalhar tenho que ir por Miranda. Trabalho em Fermoselle, que fica a dez quilómetros. Se temos que ir ao médico ou a algum lado perdemos lá o dia todo. Depois nem há onde comer, temos que andar sempre com merendas às costas”.
Justina Gomes nasceu em Bemposta mais vive em Fermoselle há mais de 30 anos. Juntou-se ao protesto porque este encerramento quebra as relações familiares que tem do outro lado da fronteira. “Tenho a minha mãe com 88 anos em Bemposta. Há mais de um mês que não a consigo ver. Eu falo com ela, mas não a vejo e está sozinha. No tempo que vivemos não é para estar fechada um fronteira assim”.
Portugueses e espanhóis juntaram-se sábado, na fronteira, cumprindo um minuto de silêncio, como chamada de atenção.
Escrito por Brigantia