Palaçoulo recuperou tradição de “ir a caminhos”

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Seg, 17/05/2010 - 11:01


Juntar o povo em prol do bem comum. Este fim-de-semana cumpriu-se outra vez a tradição no Palaçoulo e os caminhos já estão mais arranjados.

O barulho das máquinas a carregar de terra e pedras mais de trinta tractores e camiões foi uma constante ao longo da manhã do último sábado. Cerca de 70 pessoas juntaram-se bem cedo e foram cumprir a tradição.

 

 

 

“Na época do meu avô já era costume. Interrompeu-se durante alguns anos até que há 15 anos voltou a ir-se a caminhos. Mas nalguns anos não se faz. No ano passado não se fez”, recorda Manuel Gonçalves, presidente da junta de freguesia e o responsável por reunir as tropas. “O que se faz é reunir o povo que, por boa vontade, pega nos seus tractores e levamos desterro e entulho para compor os caminhos agrícolas.”

 

 

No terreno, a fileira de tractores faz lembrar uma linha de montagem. Sinal dos tempos e do século XXI. Porque nem sempre houve máquinas a dar uma ajuda. Manuel Maria Fernandes, do alto dos seus 74 anos, ainda se lembra de como era no seu tempo.

 

 

 

   “É tradição já do tempo dos nossos antepassados. Antes era com veículos de tracção animal, bois, vacas, burros. Antigamente juntava-se mais gente mas agora uma máquina sozinha faz mais do que 50 pessoas.”

Com duas frentes de trabalho, quatro quilómetros de um caminho intransitável, onde já nem os burros passavam, conheceram uma nova roupagem.

 

 

 

 E até os mais novos trocaram o computador pela picareta. Que o diga Edgar Pêra, de 15 anos.“Foi a primeira vez. Estava em casa e vim também. Tenho andado a pôr umas pedras nos buracos. Gostava era de andar com as máquinas mas ainda não tenho idade”, confessa, dizendo que não contou a nenhum colega. “Eles também não gostam.” No seu caso, “se não estivesse aqui, estava em casa, sem fazer nada, no computador.” 

Mas nem tudo são rosas. Há tractores que se enterram, como o de José Martins, o que atrasa o trabalho, e despesas que saem do bolso de quem colabora.

 

 

 

“Este tractor consome uns dez litros à hora, tudo pago por mim. Mas há que colaborar. Temos de ser nós a fazer pelos caminhos, porque é muito bonito estar em casa a dizer que os caminhos haviam de estar melhor e quando chega o dia ninguém quer colaborar.”

 

 

 Graças aos imprevistos, os trabalhos atrasam-se mas o almoço não espera por ninguém.

 

A limpeza das ruas da aldeia vai ter de ficar para outro dia. Mas, pelo menos, no caminho entre Palaçoulo e Atenor, os burros e os tractores já passam outra vez.

Escrito por Brigantia