Qua, 20/03/2024 - 08:20
De acordo com a ofendida, descobriu que alguém estava a filmar com um telemóvel por cima da porta e participou o caso à polícia, contra desconhecidos, porque, apesar de suspeitar de um homem que teve um comportamento estranho no corredor de acesso às casas de banho, não tem provas para acusar.
Espera agora que o Ministério Público possa pedir as imagens de videovigilância da Loja. A mulher diz que a sua pretensão em tornar o caso público é alertar a comunidade para tomar as devidas precauções, porque desconfia que não tenha sido um caso isolado.
O caso aconteceu, ao final da tarde da passada quinta-feira (14 de março), quando Paula (nome fictício) foi às compras à Loja Continente, mas antes disso, deslocou-se à casa de banho. “No percurso, fui ultrapassada por um sujeito que me interrompeu a passagem e passou na minha frente no corredor que dá acesso às três casas de banho. O sujeito dirigiu-se à casa de banho do meio, a que está destinada a pessoas com dificuldade de mobilidade, e já isso chamou-me à atenção, porque não me pareceu deficiente e também vi que estava a segurar o telemóvel na mão”, descreve.
Alguns segundos depois deste episódio, Paula viveu momentos de pânico. “Entrei na casa de banho das mulheres. Baixei as calças, comecei a fazer as minhas necessidades e de repente comecei a ver uma sombra debaixo da porta e consegui ver os pés a andar muito devagar”, relata. “Se fosse outra mulher batia na porta e ia embora ou esperava, mas aquela sombra parou, muito lentamente, e tive o instinto de olhar para cima e vi um telemóvel parado como se estivesse a gravar, não estava a tirar fotos porque não havia movimento com a mão”, diz.
A sua primeira reacção foi gritar por socorro. “Comecei a gritar e o tempo que levei de conseguir subir as calças e de me arranjar foi o tempo suficiente para a pessoa sair dali e, penso que deve ter-se refugiado na casa de banho para os deficientes, mas quando fui alertar o segurança, ele fugiu”, afirma.
Paula acredita mesmo que não tenha sido a primeira vítima. “Sinto que ele já fez isso mais vezes, porque sabia o que estava a fazer, a delicadeza de como fazia todo o processo, não terei sido a primeira e supostamente não serei a última”, receia.
Paula diz que o objectivo principal de relatar publicamente este caso é para que “todos estejam alerta”, porque “vai muita gente àquela loja: crianças, jovens e mulheres”.
Paula entende que se ficasse em silêncio, “isto caía no esquecimento e ele ia fazer mais e seria pior, porque se conseguiu fazer isso comigo, com uma criança será pior. Faço esta denúncia, para prevenir, não deixarem ir as crianças sozinhas e mesmo qualquer pessoa que vá às casas de banho que fiquem atentas, até essa situação ficar resolvida”, avisa a mulher, até porque adianta que o suspeito “tem sido visto diariamente na Loja do Continente e ali permanece durante longas horas”, conta.
A ofendida sublinha que teve toda a colaboração dos responsáveis da Loja neste processo. “O Continente deu-me todo o apoio nesse momento. Chamou a polícia, os agentes foram ter comigo. Para ter acesso às câmaras, penso que fizeram todo o procedimento normal nestas questões”, relata.
Ministério Público pode solicitar a visualização das imagens
A conduta do suspeito pode enquadrar-se no crime de devassa da vida privada punível com pena de prisão até um ano ou com pena de multa até 240 dias, mesmo que as respectivas fotografias ou vídeos não tenham sido divulgados ou mostrados a terceiros, e são passíveis de agravamento, por exemplo, se os factos forem praticados através de meios de difusão generalizada.
Trata-se de um crime semipúblico, ou seja, o respectivo procedimento criminal depende da apresentação de queixa, o que já foi feito, confirmou a PSP de Mirandela.
De acordo com a Lei, a PSP está impedida de ter acesso às imagens de videovigilância, mas já pediu ao Continente a preservação das imagens (não podem ser destruídas, nem ter imagens sobrepostas), aguardando-se a determinação pelo Ministério Público da utilização daquele meio de prova no âmbito do processo.
Entretanto, já há resposta oficial do Continente à esta notícia. Numa curta nota escrita, o Modelo Continente (MC) refere que foi “com grande preocupação que tomámos conhecimento da alegada situação que
envolveu uma cliente da loja Continente Modelo de Mirandela”, pode ler-se. A resposta adianta que o caso “está sob investigação das entidades competentes, onde temos procedido com total colaboração, estando
comprometidos em garantir a segurança e privacidade dos nossos clientes”, conclui a nota.
Escrito por Terra Quente (CIR)
Foto: Rádio Terra Quente