Moto-rali MCP PROestima deslumbrou 150 mototuristas

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Ter, 30/03/2010 - 17:03


150 mototuristas em quase 100 motos oriundos de 17 motoclubes do Algarve ao Minho rolaram descontraídamente no 19º Moto-rali Turístico MC Porto-PROestima, passeata integrada no 14º Troféu Michelin desta mototurística actividade da FMP, que decorreu em Macedo de Cavaleiros. 

  Foi uma autêntica aula geológica e ambiental que agradou à esmagadora maioria da caravana, já que os mototuristas que aderem a este formato de passear em moto são pessoas muito interessadas pelo nosso país e ávidas de conhecer e aprender. Sabedor disto, o MC Porto, com a ajuda preciosa do sócio Pedro Teiga, montou um roteiro de dia e meio em que mostrou a geología ímpar do Monte de Morais (tem fenómenos que só ocorrem noutros cinco pontos da Terra) e a fabulosa Paisagem Protegida da Albufeira do Azibo. “Azibo e Monte de Morais” foi o nome lógico do evento que não precisou sequer de ocupar metade do concelho de Macedo cuja Câmara Municipal foi grande apoiante deste moto-rali turístico. Bastaram 150 km de percurso totalmente asfaltos, divididos por três pachorrentos sectores para mostrar deslumbrantes miradouros, visitar o Museu Rural de Salselas, Sala Museu de Arqueologia, Casa do Careto de Podence e Real Filatório de Chacim e claro, passear muito, muito pelas aldeias e vales do rio Azibo e Sabor.
Um grande Bem-Haja a todos os elementos da caravana. Participaram com afinco na iniciativa nacional “Limpar Portugal”, retirando toneladas de entulho do vale do Sabor, na freguesia de Lagoa. E isto sob a chuva copiosa de sábado de manhã que quase ía arruinando a passeata! A beleza da paisagem perdeu-se mas o espírito solidário manteve-se bem forte. O MC Porto teve 49 sócios e familiares em 29 motos e duas carripanas envolvidos na passeata. Destaque para os Conquistadores de Guimarães e Clube Mototurístico de Macedo ambos com 15 motos e um fartote de boa disposição. Este último clube, a “jogar em casa” foi de grande importância para o sucesso do passeio pois auxiliou a organização em vários pormenores. Obrigado, Dr. Mesquita!
Vamos saber como correu o passeio mais longo de sempre do MC Porto? É que começou no Inverno e terminou na Primavera...
Secretariado nocturno na 6ª feira
Com uma caravana tão grande, era importante abrir o secretariado na 6ª à noite, já em Macedo. Mais de 70 participantes foram já lá dormir, principalmente os de mais longe. O desorganizador-mor deu gazoneto a ultimar os muitos quilos de road-books, folhetos informativos e demais documentação e conseguiu lá chegar às 23 horas, sob grande carga de água, tal como muitos dos que viajaram nessa noite. O tempo não ajudava nada mas a alegria geral não estava beliscada apesar da previsão meterológica para sábado não ser famosa. A Residencial Capitólio serviu de quartel general e aí entregaram-se os sacos cheios de boa documentação turística a todos os presentes e deu-se grande avanço neste processo. O MC Porto conseguiu um óptimo preço de inscrição e atraiu velhos amigos destas andanças. O convívio começou e bem logo nessa noite!
Sábado de manhã: A carga de água não impediu o Limpar Portugal
A praça diante da Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros ficou repleta com a centena de motos, alinhadas para se fazerem à estrada no sábado de manhã. A mesma edilidade brindou o grupo com farto e sucolento pequeno-almoço servido na Casa Falcão, solar centenário e brioso. O MC Porto terminou aí o secretariado com os que chegavam no dia e todos foram ainda convidados a visitar o interessante Museu de Arta Sacra, no piso superior.
De barriguinha composta (para não dizer empanturrados), os amigos mototuristas lá se foram fazendo à estrada (de minuto a minuto) com perguntas na mão, fotos para identificar na outra, road-book no saco de depósito e sorriso na cara. As nuvens ameaçavam mas ainda não “chuveiravam”. A partida das 89 equipas começou às 10.01h e só terminou às 11.30h!
O Real Filatório de Chacim constituiu a primeira paragem. Estas ruínas da antiga fábrica de fio de seda explicou que há uns séculos, os nossos reis mandavam plantar amoreiras aos milhares.O bicho-de-seda alimenta-se das suas folhas e era preciso matéria prima. O céu negro começou a transbordar para cima dos capacetes. Foi uma pena. Pela frente tínhamos a descida ao vale do Sabor e foz do Azibo. Estes vales, puros, selvagens, são fantásticos pela biodiversidade que aí se encontra. É um festival de vegetação autóctone que exala aromas e faz sentir bem. Mas sob a carga de água, cheirar a lavanda não é fácil. Depois desta pergunta surpresa feita pelo Cuarlos Gomes e Tuxa no meio da Natureza passou-se ao “Limpar Portugal”, uns km adiante. O MC Porto, com a colaboração da Câmara, escolheu este ponto estratégico por ser o mais panorâmico de todo. Até encheria a alma apanhar lixo numa encosta daquelas sobre o Sabor se... estivesse bom tempo.Mas com aquela tromba de água... E não é que ninguém vira as costas à labuta e enchem uma camioneta com entulhos, detritos, monstros e tudo que estava a conspurcar aquele espaço natural?Fantástico! Ninguém tirou o capacete. Só se viam pessoas de impermeáveis negros a apanhar coisas e a trazer para cima. Fabuloso! Parabéns a todos!
Pouco adiante, o Pedro Teiga fazia a primeira aparição. Mostrava às dezenas de interessados a “Descontinuidade de Moho”. Exactamente a transição entre os xistos e uma rocha negra e dura que há 300 milhões de anos foi compactada a cerca de 40 km de profundidade. Este fenómeno só é visível nuns cinco lugares mais do planeta! Mas o Pedro explicava muito mais, apesar de estar num “pinto”. E as pessoas ouviam e escutavam com agrado. Tem é de guardar o road-book para regressar num dia de sol. Daí até Macedo foram mais uns 30 km a rolar, com ligeiras paragens aqui e acolá, para conhecer outros pormenores geológicos. Estava prevista a paragem também na aldeia de Morais para “Limpar Portugal” na ribeira que por lá passa. Mas a Junta tratou disso uns dias antes. Ainda bem pois como estava o tempo, não se podia espremer demasiado pelo ânimo das pessoas e o Nuno Feliz não é de modas e esperava a caravana de chicote em punho, em bom estilo de capataz!
Sábado de tarde: oxigenar na albufeira do Azibo
O almoço de sábado foi descomplexado, no pavilhão da Feira de Macedo, num almoço servido a todos os voluntários do Limpar Portugal. Daí saiu-se para as melhores paisagens do moto-rali, precisamente a Paisagem Protegida da Albufeira do Azibo (PPAA). Até lá, o pelourinho de Vale de Prados e a ponte românica de Vale da Porca marcaram o ritmo. Surge a albufeira ao longe a abrir o apetite e o tempo começa a estiar. Não era sem tempo. Abrem-se capacetes e dá-se folga aos impermeáveis. Venha o Museu Rural de Salselas,. Este espaço é uma enorme colecção de memórias que tem o dom de estar muito bem distribuído por temas e extremamente organizado e explicado. Um grande trabalho que agradou a todos. Só tinhamos meia hora para lá estar mas merece visita com mais tempo. Seguiu-se a Sala Museu de Arqueologia. Aqui o que encantava era o local onde se encontrava, já no coração da PPAA. As motos estacionaram e os motociclistas passearam a pé até às águas do Azibo represado. Mais uma pergunta surpresa e mais uns bons momentos. No chão tropeçava-se em pedras de onde se produz o talco. São macias e não deixam dúvidas com o tacto.
Após a pausa, mais um giro na moto. Temos de nos afastar das margens pois os seus caminhos são apenas pedestres e cicláveis. Estão um mimo, com cercas de madeira e obsrvatórios para fauna. A floresta é formada essencialmente por carvalho cerquinho, sobreiro e azinheira, atapetados por líquenes e rodeados por imensos arbustos e plantas. Delicioso.
Entravamos na PPAA agora pelo norte, por Santa Combinha. Numa das margens esperavam-nos os lavradores Hélio e Cátia com o transmontano jogo do chinquilho. Mas a peça utilizada era um contrapeso de tractor... Pesava cerca de 35 kg e poucos conseguiram atirá-lo para lá da risca marcada no chão! O local e acessos eram espectaculares. Havia raios de sol que furavam as nuvens a alegria já contagiava. Seguiu-se o miradouro de Santa Combinha. O Sérgio e Zé Seca Adegas tinham algo mais a perguntar, longe, num dos caminhos pedestres. Tudo para que os mototuristas se integrassem na Natureza. E havia meia hora para gozar a excelência do local. As motos descansavam e os participantes de todo o país deslumbravam-se com o nosso Portugal. Temos de lá voltar. No regresso da PPAA, um saltinho a Podence e sua Casa do Careto. O espaço dedicado a um dos mais – ou talvez o mais – peculiares carnavais do país alegrou a comitiva. O colorido das vestes destes personagens surpreende. E surpreendidos ficaram os participantes do MR por ter de fugir de um deles. A Ana Lima, de Benavente, apanhou um susto que ainda deve estar branca... e quem era o careto? A Catarina Almeida, acabadinha de chegar da sua viagem à Guiné Bissau, por terra, onde foi levar uma ambulância. Uma dupla aparição!
A tarde chegava ao fim, com uma das nuvens mais negras que há memória. Quase todos se esquivaram à trovoada e tromba de água. Quase todos. Novo banho, à chuva e nas residenciais. Esgotamos cinco para colocar toda esta comitiva.
Sábado à noite: casamento com humor
O jantar parecia um casamento. O salão engalanado da Capitólio recebeu bem o grupo, pontual, às 20.30h. As mesas bem postas e recheadas compensaram o esforço da manhã. A borga estava instalada e o melhor da festa chegou após o café. Afastaram-se mesas, aproximaram-se cadeiras. Fez-se uma plateia e a organização fez agradecimentos, deu dicas para domingo e ditou os 5 primeiros da classificação. O António Pinho e Isabel Rangel do MC Porto estavam mais certinhos e voltaram-se a sentar de lenço amarelo ao pescoço. E aí sim, apresentaram-se os humoristas Rui Xará e Paulo Baldaia! Estes dois amigos, postos a desbundar anedotas, piadas, planeadas ou improvisadas, a tocar e cantar letras doidas e divertidas fizeram rir das 23.00h à 1.30h da madrugada. Que noitada esta onde as empregadas do restaurante, o Valente, o Ernesto, o Seca Adegas e o Zé Polícia foram cristos do humor desta dupla. A galhofa do MR de 2006 no Marco de Canavezes repetiu-se. Muito bom!
Domingo de manhã: sol e passar para a caixa da carrinha
Felizmente o vento virou a norte e as nuvens foram desaparecendo. A manhã acordou ensolarada e deu-se a partida da etapa diante do Centro Cultural de Macedo, às 9.00h da matina. A primeira paragem deu o mote para o resto do dia. A fonte/lavadouro de Pinhovelo está muito bem inserida na aldeia típica. Tem casinhas com as varandas tradicionais, tem pelorinho, tem senhoras simpáticas. E tinha de novo os lavradores Cátia e Hélio que obrigavam os desgraçados participantes a correr em redor da fonte com trouxa de roupa suja à cabeça. E ainda tinham de cantar o malhão! Após uns 20 km de aldeias, a subida ao convento de Balsamão. Nova pergunta surpresa do Cuarlos e Tuxa a propósito dos continentes que já estiveram separados, se uniram e voltaram a separar. Sabem que daqui a uns 250 milhões de anos os continentes vão estar todos unidos? Fixe. Vamos poder ir de moto até à Argentina e Austrália. O engraçado é que esse supercontinente até já tem nome: Amásia.
E no sopé de Balsamão os organizadores convidavam a estacionar as motos e guardar equipamentos. Duas carrinhas de caixa aberta da câmara e respectivos condutores aguardavam a comitiva, às molhadas. A descida ao Poço dos Paus é de 1,5 km, em terra e alguma lama. Uns 30% dos condutores desceriam com as motos sem problemas. Mas, para fomentar a boa disposição e quebrar a rotina, todos foram nas carrinhas em bom estilo africano. A paisagem era de floresta mediterrânica, densa e atractiva. O sol alegrava e como tal até houve muito boa gente que preferiu fazer a descida a pé. Deu boas fotos e muita brincadeira. A manhã estava-se a passar muito bem. Lá em baixo, o Azibo corria com força entre amieiros, salgueiros e freixos. Para escapar à corrente os cágados fugiram para terra firme e a Carla teve a sorte de descobrir um grande entre a vegetação. Sessão fotográfica e o responder fácil a uma das perguntas do questionário.
A Dra Eugénia Gonçalo, responsável pela Ecoteca de Macedo de Cavaleiros aguardava o grupo - que chegava aos molhos no cimo das carrinhas – e ía explicando o complexo de diques, outro fenómeno geológico e que se consegue apreciar aqui. Havia uma hora para todo este vai-e-vem, bem necessário para se poder usufruir da beleza do sítio.
Já nas motos, há que começar a “subir no Oceano Rheic”, gigantesco mar existente há cerca de 300 milhões de anos. Depois da povoação de Paradinha de Besteiros, a professora Carla esperava os mototuristas para que estes sentissem o peso a uns pedregulhos que nos pareciam normalíssimos. Mas não. Já foram esmagados e compactados há muito, sob vulcões, e por isso ficaram bem pesados. A professora Carla ainda explicou mais pormenores e mandou-nos seguir caminho para uns minutos adiante encontrarmos o Pedro Teiga no meio de sobreiros retorcidos e cobertos de líquenes. As árvores tinham cerca de 140 anos e estavam minúsculas. Estávamos no cimo do Monte de Morais onde o minério existente no solo transforma as plantas quase em bonsais. Num instante o Pedro descobriu entre os xistos, pedras de amianto (muito tóxicas) e de opala. Mais uma boa palestra mas que não se podia alongar pois tínhamos o almoço à espera.
Morais: Almoço em festa
Em Morais já se assavam as carnes diante da Junta de Freguesia. O próprio presidente e habitantes locais esmeravam-se para receber muito bem os 150 forasteiros, como em Trás-os-Montes sabem fazer muito bem. Os motociclistas arrumaram finalmente as motos diante da casa do povo, entregaram os questionários, alguns semidesfeitos pelas chuvadas de sábado, e juntos foram tirar a foto de grupo diante da igreja. Seguiu-se uma almoçarada de carne, muita carne! Trás-os-Montes é Trás-os-Montes e fome aqui não se passa. A população de Morais excedeu-se e proporcionou grande refeição. Em excelente convívio fizeram-se os últimos agradecimentos e entregaram-se bonitas casas de artesanato local aos mais regulares. A Isabel e António mantiveram-se à frente do Fernando e Carla Silva de Tomar e dos famalicenses Carlos e Fátima Cardona. Com os três simpáticos casais perfilados e uma grande salva de palmas, o moto-rali terminou com o convite de regressarmos a Morais no 3º fim-de-semana de Julho, altura em que tem grande festança na aldeia. Em 2010 já não conseguimos mas para o ano...
Muito obrigado a todos os responsáveis pelo sucesso da passeata. Troféu do conhecimento continua em Espanha
O Troféu Michelin de Moto-ralis turísticos dará um salto a Espanha a 17 e 18 de Abril. A serra de Aracena foi o local escolhido para tema do passeio organizado pelo MC Albufeira, terceira e próxima ronda deste troféu. A serra de Aracena é próxima da fronteira, para lá de Moura e Mourão.  Texto e Fotos: Moto Clube do Porto