Ministro da Cultura diz que mirandeses são loucos por falarem "lhéngua"

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Ter, 19/05/2009 - 08:15


Os mirandeses devem estar “loucos” por falarem uma língua própria. Quem o disse foi o próprio ministro da Cultura, ontem, em Macedo de Cavaleiros, à margem da inauguração de dois museus de arte sacra.  

Respondendo aos anseios do presidente da câmara de Miranda do Douro que já se tinha mostrado preocupado com a preservação da língua mirandesa, José António Pinto Ribeiro comparou os mirandeses aos irredutíveis gauleses das histórias de Asterix.

 

“Recentemente foram editados vários volumes do Astérix em língua mirandesa. Da mesma forma que havia uns loucos gauleses que viviam numa aldeia também há uns loucos portugueses que vivem em Miranda do Douro e falam outra língua. Há um paralelismo”, defendeu o ministro da Cultura.

 

Apesar da “loucura” dos mirandeses, o ministro da Cultura prometeu fazer “o possível” para ajudar a preservar a “lhéngua”. Uma dessas iniciativas será a publicação uma tradução de Camões e a história da língua mirandesa. Mas, mesmo assim, José António Pinto Ribeiro acredita que não será fácil preservar o mirandês.

 

“Vai ser muito difícil fazer a defesa das línguas minoritárias porque cada vez mais as línguas que vão ser defendidas são aquelas que têm por trás de si um grande número de falantes. E isso é uma das grandes vantagens do português, que tem 250 milhões de falantes”, disse.

 

Quem não gostou das palavras do ministro foi o autarca de Miranda do Douro, que já tinha feito chegar a José António Pinto Ribeiro a necessidade de apoiar mais a preservação do mirandês.

 

“A loucura às vezes é salutar. Sem esses loucos que todos os dias trabalham em prol da língua mirandesa, já há muito que tinha desaparecido”, começou por dizer Manuel Rodrigo. O autarca diz que “há muitos loucos em Miranda – no bom sentido – e é bom que continue a haver para que a língua seja uma realidade”.

 

O ministro da cultura passou o dia de ontem no distrito, onde inaugurou dois museus de Arte Sacra: um em Macedo de Cavaleiros e outro em Vinhais.

O de Macedo custou cerca de um milhão de euros, inteiramente pagos pela autarquia.

Já o de Vinhais custou 800 mil euros, dos quais a câmara custeou 500 mil.

Antes disso, em Bragança, José António Pinto Ribeiro reuniu-se com autarcas dos 12 concelhos do distrito, a quem propôs uma maior cooperação para melhorar o funcionamento dos equipamentos culturais da região.

 

Pedro Mora, vice-presidente da câmara de Freixo de Espada à Cinta, explicou os projectos apresentados na reunião.

 

“Centram-se em três áreas: língua, trabalhar em rede e desenvolver as escolas criativas de arte.” Do lado dos autarcas houve a garantia de que “muita coisa tem sido feita” mas “é fundamental que haja mais empenho por parte do Governo e que a cultura seja facilitada a todos”. Por isso, “trabalhar em rede vai ser fundamental para diminuir os gastos e os custos e maximizar toda a cultura que os municípios podem disponibilizar”, disse Pedro Mora. “Houve ainda outra parte sobre o património edificado em que é necessário, com urgência, que se desenvolvam uma série de programas para melhorar uma série de edifícios, como templos religiosos, altares”, concluiu.

  

O ministro da cultura apelidou os mirandeses de loucos, por falarem a sua própria língua. Palavras que não caíram bem ao autarca de Miranda.

 

 Escrito por CIR