Seg, 06/07/2009 - 17:34
O Pavilhão Atlântico não encheu para ver o primeiro concerto de sempre de Kylie Minogue, nome incontornável da pop das últimas duas décadas, em Portugal.
Apesar de uma lotação que se terá ficado pela metade da maior sala de espectáculos fechada da cidade, Kylie Minogue não desarmou: ao nosso país, trouxe uma produção de palco caprichadíssima, com variados e empolgantes "cenários" (as imagens projectadas no fundo do palco, que marcavam cada acto do concerto), e, mais importante que qualquer acessório, uma presença fresca, entusiasmada e genuinamente simpática, que deliciou os espectadores.
Kylie pode ser uma diva, mas ontem à noite mostrou-se também acessível e próxima dos "mortais"; fazendo um trocadilho com o título do seu álbum de 1997 , da australiana pode escrever-se que é uma "princesa possível".
O espectáculo começou pouco depois da hora marcada, com a equipa de Kylie Minogue a tomar de assalto o palco do Atlântico.
Ao todo, entre músicos e bailarinos, foram quase 20 as pessoas que contribuíram directamente para o sucesso desta noite, não só dando o seu melhor nos respectivos postos como incentivando constantemente o público, que nunca deixou, também, de manifestar o seu apreço por Kylie, gritando o seu nome e batendo palmas efusivamente.
Foi entre amplificadores deslizantes e secundada por uma trupe de bailarinos-robôs que Kylie se mostrou, pela primeira vez, ao público português. Desde logo, ficava em evidência a antítese carne / máquina que tantas vezes a iconografia em redor da mulher de "Locomotion" parece sugerir.
Mas qualquer vestígio de frieza desvanecer-se-ia ao longo da noite, com a cantora a mostrar-se verdadeiramente emocionada com a excitação do público e a nunca vacilar no seu papel de "mestra das cerimónias" de um Sábado à noite "very hot" - palavras dela!
Ainda os mais afoitos recuperavam o fôlego após "Speakerphone", a canção de abertura, e já o inconfundível "na na na" de "Can't Get You Out of My Head", um dos grandes hinos desta década, causava acentuadíssimo delírio no Atlântico.
Com milhares de vozes em uníssono, a sala à beira Tejo era, neste momento, uma enorme discoteca, impressão que se manteve durante este primeiro acto (de nome Xlectro Static), pela mão de temas como "In Your Eyes".
Seguir-se-iam os ritmos e as rimas "old school" da fase "Cheer Squad", na qual os bailarinos de Kylie Minogue se apresentaram vestidos à chefe de claque americana, com pompons nas mãos e a letra "K" nas costas, para uma sequência plena de alegria, jovialidade e sorrisos, campeonato em que a estrela da noite ganha, sem qualquer dúvida, por goleada. Se dúvidas houvesse, após a eufórica prestação de "Heart Beat Rock" (com passagem por "Mickey", de Toni Basil), "Wow" e "Shocked", a felicidade de Kylie Minogue por estar em palco ficaria por demais provada.
Vagamente mais negro, mas igualmente festivo, foi o capítulo "Xposed", apresentado por imagens de uma Kylie sinistra e "tricotada", algures entre Hannibal Lecter, d' O Silêncio dos Inocentes, e Björk. Vestida de vermelho, com chapéu preto e botas de cano alto, a insuspeita quarentona dançou, gesticulou e insinuou-se como uma dominatrix com peso e medida, incendiando o público em "Slow", quase rock, e na óptima "Two Hearts", em que, rodeada de bailarinas de corpete, deu ares de Peggy Lee.
No encore, a canção "Love At First Sight" foi recebida em êxtase, levando Kylie Minogue a dirigir-se aos admiradores para, felicíssima, garantir que a longa espera - afinal, nunca havia actuado em Portugal - tinha valido a pena. "I Should Be So Lucky", borbulhante êxito de 1987, encontrou o Atlântico já repleto de serpentinas e confetti dourados - a "erupção" dera-se na música anterior - e serviu de súmula da verdadeira febre de sábado à noite que invadiu o concerto de Kylie Minogue, neste 4 de Julho.
Encarnando a pele de uma garota naïf ou de uma experiente sedutora, ao serviço da música mais despreocupada ou de uma electrónica algo negra, Kylie foi, nesta estreia em Portugal, incansável, merecendo todos os aplausos de um público que, mercê da entrega e do entusiasmo, a páginas tantas já dava a ilusão de encher o Atlântico. Saiu de palco abraçada a uma bailarina, deixando na plateia nacional uma última imagem de carinho e saudável ausência de vedetismo.
Texto de: Lia Pereira
Fotos de: Rita Carmo/Espanta Espíritos /Blitz