Junqueira no concelho de Vimioso foi palco da primeira longa metragem de Cristèle Alves Meira

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Qui, 29/07/2021 - 09:54


Nos últimos três meses, a localidade com cerca de 30 habitantes a tempo inteiro foi invadida por equipas de filmagens, actores e figurantes

A pequena aldeia tornou-se num autêntico ‘décor’ de cinema e cerca de 150 pessoas estiveram por ali passaram para o casting e filmagens. A realizadora lusodescendente Cristèle Alves Meira, com raízes na Junqueira, terra natal da mãe que emigrou para França, já tinha filmado no concelho duas curta- metragens.

Para o primeiro filme de longa duração, “Alma Viva”, o cenário volta a ser a aldeia familiar das férias e a que regressa ainda muitas vezes.

 “Esta longa metragem é um processo de vários anos porque antes já tinha feito dias curtas-metragens nas aldeias ao lado da Junqueira. Primeiro era a Sol Branco e a segunda era Campo de Víboras, onde já estava a trabalhar temas e a encontrar um cinema que vamos voltar a ver na longa que é mesmo o acabamento deste processo de contar histórias de Trás-os-Montes”

“Alma Viva” conta a história de uma menina de 9 anos, filha de emigrantes em França, que regressa à aldeia em Portugal para férias de Verão e é confrontada com crenças do passado, misticismo, religião e com a morte da avó. Desta vez, não só foram ali feitas praticamente todas as gravações como o período de rodagem foi maior e muitos habitantes locais entraram no elenco, para conferir mais autenticidade e que o resultado não fosse caricatural.

 “Eu fui buscar um bocadinho de tudo o que ouvi, eu sou uma menina da terra, sinto-me mesmo transmontana. Até no dialecto e nas expressões que escolhi para o filme, são expressões mesmo dali, dei muita importância às expressões da minha aldeia e de aldeias ao lado que compreendem as histórias que estamos a contar, que têm essa forma de falar, esses gostos. É muito importante para mim ficar o mais perto possível da realidade, porque sinto-me mesmo perto dessa realidade”

Entre os actores profissionais encontram-se nomes como Ana Padrão, com raízes na aldeia vizinha de Santulhão, Nuno Gil, a lusodescendente Jacqueline Corado ou a belga Catherine Salée. Nomes consagrados, até internacionalmente, com quem contracenaram Viriato Trancoso, Teresa Pinto ou Adozinda Martins habitantes da Junqueira, que se tornaram verdadeiros actores.

“Foi a realizadora que me fez o convite para participar. Como ela é daqui da aldeia, embora seja emigrante, aceitei logo, porque era uma coisa diferente, uma experiência nova. Praticamente estive desde o início ao fim do filme, fiz de presidente da junta.  Não foi difícil. Houve muito movimento na aldeia, como quando era um miúdo com 13 anos”, contou Viriato Trancoso.

“Nesta cena havia muita gente, porque se uma pessoa olhasse para a câmara já tínhamos de olhar para a câmara outra vez, outros riam-se no cortejo do funeral, o que não poderia ser porque ficava mal. Não sabia que era assim. A mesma cena em poucos metros repetiu-se poucas vezes e eu não sabia que era tanto trabalho”, referiu Teresa Pinto.

“A senhora que foi fazer o velório pegava no tercinho, benzia-se a gente para rezar o terço ou as almas. Dizíamos umas dezenas do rosário e depois, no fim da dezena, dizíamos “dai-lhe Senhor/ o eterno descanso”, lembrou Adozinda Martins.

Contar o Interior de Portugal a partir do Interior, num filme quase etnográfico, mas ficcionado foi o objectivo da realizadora.

O filme deverá chegar às salas de cinema na Primavera do próximo ano. A realizadora Cristèle Alves Meira assegura que terá exibição em Vimioso e outras telas da região, devendo ser ainda exibido na RTP, parceira do projecto.

Escrito por Brigantia

Fotos: Charles-Henri Bedue

Jornalista: 
Olga Telo Cordeiro