Daniel Serrão defende introdução de agentes privados de saúde na região

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Ter, 25/05/2010 - 10:55


O acesso aos cuidados de saúde no Nordeste Transmontano é mau e injusto. A ideia foi defendida por Daniel Serrão, professor catedrático de medicina, ontem à noite, em Bragança. O antigo director de serviços do Hospital de S. João, no Porto, diz que o envelhecimento de população está a conduzir o Nordeste para o abismo.  

Critica ainda o Estado pela criação de um sistema próprio de saúde para a Função Pública.

“O próprio Estado parece que não tem confiança no seu Serviço Nacional de Saúde (SNS), por isso, como é que as pessoas o podem ter?” questiona. Diz, por outro lado, que “muitas empresas que são comparticipadas pelo Estado ou directamente administradas e capitalizadas por ele, têm serviços médicos próprios para os trabalhadores”. “Então para quem é o SNS? É para os pobres?” pergunta. “Os ricos não vão ao SNS, eles têm seguros privados de saúde e vão tratar-se em instituições privadas”. “Aqui não há instituições privadas porque não há negócio, isto aqui não atrai nenhum capitalista e assim há um problema de injustiça no acesso” considera.

 

Daniel Serrão falava à margem da primeira de uma série de cinco conferências organizadas pela CESPU, a Cooperativa de Ensino Superior, Politécnico e Universitário, que está agora a implantar-se no distrito de Bragança.

Na sessão de ontem, sobre a Interioridade e a Justiça no acesso aos cuidados de saúde, Daniel Serrão defendeu que a sobrevivência dos transmontanos passa pela vinda de instituições privadas para a região e pelo regresso dos hospitais das Misericórdias.

“Estamos na altura de chamar novamente essas instituições à prestação de cuidados de saúde” afirma, lembrando que “os cuidados continuados já entraram nessa linha”. “Porque não fazer o mesmo para o cuidado curativo?” sugere.

 

Nesta conferência, que ontem se realizou no auditório Paulo Quintela e contou com a presença do presidente da câmara e do bispo da diocese Bragança-Miranda entre a assistência, Daniel Serrão deixou ainda uma forte crítica ao espírito de certos funcionários públicos, que, no seu entender, também contribui para as dificuldades da população da região no acesso aos cuidados de saúde.

“O funcionário público instala-se, está aqui sentado e ganha o mesmo tanto trabalhe como não trabalhe e isso é um mau incentivo” afirma.

 

Este professor catedrático defendeu ainda que os cortes no financiamento dos hospitais pelo Governo, numa lógica de combate ao desperdício, podem ter mau resultado e levar mesmo ao aumento dos erros médicos. “Não tenho dúvidas” considera, exemplificando com um caso de atropelamento em que “não podemos fazer radiografia aos osso todos, mas apenas onde o doente se queixar, mas ele pode ter outras lesões e não se queixar”. “Tudo quanto seja economizar em exames aumenta o risco de erro no diagnóstico o que muitas vezes pode ser muito grave” refere.

 

Por ano, surgem cerca de 200 novos processos contra médicos por alegados erros no atendimento a doentes.

Um número que pode aumentar com os cortes nos exames devido à crise financeira.

Escrito por Brigantia