Acidente de tractor quase matou brigantino que reconhece que devia estar a fazer uso do arco de segurança

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Qua, 15/05/2024 - 09:24


O Arco de Santo António evitaria várias mortes em acidentes de tractor mas grande parte dos agricultores não o utiliza porque “estorva” em alguns trabalhos agrícolas

Na maioria dos acidentes com tractores, as máquinas agrícolas capotam. Foram também dois capotamentos, segundo o que se conseguiu perceber, que mataram mais dois homens, na semana passada, no concelho de Bragança. António Martins, de 66 anos, teve um acidente em 2018, em Mós de Celas, no concelho de Vinhais. Admite que o excesso de confiança foi o causador do acidente, que o levou um mês para o hospital. “Estava a limpar pedras com o engaço do tractor. Quando cheguei ao fundo o tractor patinou e eu parei e desci bem a alfaia para segurar o tractor. Meti a marcha-atrás e ele levantou logo a roda da frente, do lado esquerdo. Vi que se ia tombar e saltei. Quando se virou, não me apanhou. Mas, voltou a virar-se ficou de pé e começou a andar e passou-me por cima, de ponta a ponta, não consegui fugir. Pensei ‘vou-me levantar e vou morrer ali ao caminho’ porque se não nem me viam. Quando me tentei levantar consegui respirar”.

Entretanto apercebeu-se que o telemóvel estava caído ali ao lado, no chão. Conseguiu telefonar a pedir ajuda e foi-lhe prestado o devido socorro no local, tendo seguido, depois, para o hospital. Diz que hoje em dia está bem, mas ficaram vários traumas psicológicos, que o impedem de andar de tractor e de ir com tanta frequência à aldeia. O arco de segurança podia ter evitado tudo isto. “99% dos acidentes mortais que há é por não se trazer o arco. Sempre que se pode temos o arco levantado. Mas, às vezes, há arvores mais baixinhas… e temos medo de as cortar, mas tem que se cortar tudo e não se pode facilitar porque acontece na hora menos pensada, a um qualquer. Há muito facilitismo. A culpa nunca é do tractor. É nossa. Nós é que abusamos porque o arco, tombamo-lo, confiamos… e depois abusamos”.

E de forma a reduzir o número de capotamentos, acaba de ser lançado um sistema inovador, entre a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e uma empresa de São João da Pesqueira, a Jopauto. Se o tractor atingir os 20% de inclinação, abre-se um “braço”, que evita que o tractor capote. A ideia foi de Fernando Santos, professor e investigador da UTAD, que explica que o projecto foi criado a pensar nos tractores estreitos, que trabalham nas vinhas inclinadas do Douro, mas pode aplicar-se aos tractores comuns. “É um sistema hidráulico que pode ser adaptado a qualquer tractor. Tem a parte electrónica que mede o declive, que por sua vez activa o sistema para criar a base de sustentação”, explicou o investigador, que disse que tudo se trata de adaptação, porque, depois “o funcionamento em si é igual”.

O uso do arco de segurança não é obrigatório em tractores que não o tenham, de origem, por isso a guarda aposta em acções de sensibilização, diz o oficial de Relações Públicas do Comando da GNR em Bragança, tenente-coronel Eduardo Lima. “A sensibilização decorre com o apoio de associações locais. Tentamos aglomerar agricultores no sentido de os sensibilizar para as necessidades de segurança. Mas também decorrem de porta a porta. Nos acidentes em que não se usa arco de segurança, as consequências mais drásticas podiam ser evitadas. Aconselhamos sempre ao uso. Apercebemo-nos que em alguns trabalhos há dificuldade no seu uso mas é uma questão de segurança pessoal e de evitar consequências maiores”.

Actualmente, para conduzir um tractor, é preciso ter habilitação e é obrigatório utilizar o arco de segurança, pelo menos nas viaturas que o têm de origem, bem como utilizar o pirilampo.

Em menos de um mês, os acidentes com tractores agrícolas mataram cinco homens no distrito de Bragança.

Escrito por Brigantia

Jornalista: 
Carina Alves