Estação das Artes de Mirandela acolhe “Linhas da Memória” de Graça Morais

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Sex, 17/10/2025 - 09:28


Mostra pretende promover a reflexão sobre temas socialmente inquietantes e aproximar a sociedade à arte através da criação artística com vários quadros das gentes da sua terra, Trás-os-Montes

A Estação das Artes, antiga estação da CP agora requalificada, em Mirandela, tem patente ao público a exposição “Linhas da Memória”, da autoria da pintora transmontana Graça Morais.

A pintora, natural do Vieiro, concelho de Vila Flor, sublinha que esta mostra pretende promover a reflexão sobre temas socialmente inquietantes e aproximar a sociedade à arte através da criação artística com vários quadros das gentes da sua terra, mas Graça Morais também destaca o simbolismo de apresentar estes quadros na antiga estação de caminho-de-ferro, que lhe trazem memórias da sua infância e juventude. “Tive a preocupação de fazer uma escolha de obras que nasceram numa aldeia muito perto de Mirandela, o Vieiro, mas, muitas destas pessoas, aqui pintadas, vieram a Mirandela, tal como eu e a minha mãe vínhamos, de comboio. No fundo é um ato simbólico, já que estamos numa estação. Eu gostava muito de vir a Mirandela. Mirandela tinha tudo. Tinha um mercado ótimo. Recordo-me da feira de ano, antes do Natal. Vinha com a minha mãe comprar polvo, congro e bacalhau. Para mim era uma maravilha”.

São os rituais femininos da zona campestre onde nasceu que marcam de forma muito particular o seu trabalho. Mulheres e bichos, muitas vezes ambos apresentados numa só figura, revelam as suas raízes e a vida difícil de quem trabalha o campo. “Tive a sorte de ter dois mundos, um deles mais ligado à terra, ao olhar e à intuição, e, depois, o Vieiro, aquela relação com as pessoas. Hoje, vou lá e fico triste porque a minha mãe já morreu e as mulheres aqui pintadas estão quase todas no cemitério, mas a minha obra fala delas e por isso elas estão vivas”.

No entanto, Graça Morais revela que nos últimos tempos, o seu trabalho está muito ligado à situação atual no mundo que considera ser muito preocupante. “Tenho andado muito angustiada. Só as pessoas muito egoístas é que não se preocupam com a situação que o mundo está a passar, e a própria Europa, porque nós estamos entalados entre uma guerra na Ucrânia e entre um louco que está a governar a América, e outro igual ao lado, sem coração”.

A exposição “Linhas da Memória” de Graça Morais vai estar patente ao público na Estação das Artes, até dia 2 de janeiro de 2026.

Nascida em 1948, no Vieiro, em Vila Flor, Graça Morais realizou e participou em mais de uma centena de exposições individuais e coletivas, em Portugal e no estrangeiro.

Escrito por Terra Quente (CIR)