Qui, 18/07/2024 - 09:10
O ano passado, no concelho de Vinhais, os produtores chegaram a ter 80% das castanhas com podridão. Este ano temem que o fungo volte a causar prejuízos.
Este fungo começou a ser estudado pelo Instituto Politécnico de Bragança em 2019. Inicialmente era detectado apenas nas castanhas que estavam armazenadas. No entanto, a investigadora Paula Rodrigues, explica que a situação se tem vindo agravar e a podridão já é detectada em castanhas que ainda estão na árvore. “É um fungo que, até há poucos anos, era detectado em maior quantidade só após a colheita, já durante o armazenamento. Ou seja, era um fungo que enquanto a castanha estava na árvore, a árvore conseguia controlar com o seu sistema imunitário o desenvolvimento do fungo, mas assim que era colhida e durante o seu armazenamento tinha uma propagação muito rápido. O que nós estamos a verificar agora é que já no campo, ainda com a castanha, pré colheita, detectamos uma grande incidência do fungo e da podridão”, explicou.
Esta falta de “imunidade” dos castanheiros estará relacionada com as alterações climáticas e com o fungo ser bastante resiste a temperaturas altas.
Marcelino Rodrigues foi um dos agricultores a quem o fungo provocou prejuízos o ano passado. Tem cerca de 20 hectares de soutos em Meixedo, no concelho de Bragança, e muita castanha não estava em condições para ser vendida. “A castanha estava má, podres e mais podres. Tinha soutos, ia lá e via tudo furado, tudo cheio de buracos e deixava-as. Já nem as apanhava, para quê? Para atirar com elas?”.
A produção de Lindolfo Garcia também não conseguiu escapar. Tem 40 hectares de soutos nos concelhos de Bragança e Vinhais. Por ano, colhe 90 toneladas de castanha. Na campanha anterior, o prejuízo chegou às 15 toneladas. “O ouriço estava no chão, aberto, e olhava-se e viam-se castanhas maravilhosas, abriam-se e estavam todas podres”, explicou, dizendo que tinha “três reboques” cheios de castanha “estragada”, o que representa “15 toneladas”.
A fraca qualidade fez descer o preço da castanha. Segundo o presidente da Arborea- Associação Agro-florestal da Terra Fria Transmontana, Abel Pereira, alguns fornecedores chegaram a devolver a castanha. “A castanha não tinha qualidade para o mercado. O preço andava a ronda 1,5 euros, quando devia rondar os 2 ou 2,3 euros. Houve fornecedores que tiveram de devolver castanha”, disse.
O IPB está a estudar o possível combate do fungo com agentes biológicos. No entanto, é preciso ter em consideração vários factores, como a meteorologia, a dimensão da árvore e a região. A validação científica pode demorar, pelo menos, três anos.
Os estudos que estão a ser desenvolvidos pelo politécnico de Bragança para o fungo da podridão da castanha não têm financiamento. Estão a ser feitos com fundos próprios do IPB, pois todas as candidaturas submetidas até agora para esta investigação não foram aprovadas.
Escrito por Brigantia