Sex, 12/07/2024 - 08:17
A pintora transmontana Graça Morais está a assinalar os 50 anos de trabalho. Para assinalar a data, abre hoje ao público, no Centro de Arte Contemporânea ao qual empresta nome, a exposição "Obras Escondidas, Obras Escolhidas".
Segundo Graça Morais, a mostra, que está patente, neste espaço de Bragança, até Janeiro, reúne várias obras inéditas mas também muitas outras que já integraram outras exposições e que marcam o trabalho da artista, nascida no Vieiro, em Vila Flor. “Procurei reunir obras inéditas. São cerca de 80, sobre papel, que nunca foram expostas. Estavam guardadas em gavetas e em pastas e nunca foram expostas. Não é uma exposição comemorativa. Eu não tenho que comemorar os 50 anos, tenho que mostrar obras que considero de qualidade e que realizei durante a vida artística, mas não tem um carácter retrospectivo”.
A artista tem uma relação grande com a aldeia onde nasceu e com as pessoas com quem conviveu. As recordações de outros tempos, da emigração, das fortes mulheres que ficavam a cuidar dos filhos e das aldeias são uma inspiração. Para as obras passa também os dramas do mundo e das pessoas, como conflitos e guerras. São trabalhos dramáticos que traduzem a realidade, por vezes amarga, em que se vive. “Quando a revolução de Abril aconteceu eu estava em Guimarães, era professora, e pintava, já tinha o meu atelier. As obras mais antigas são sobre o 25 de Abril e sobretudo sobre aquele período, que foi muito complicado para o nosso país. Depois procurei fazer um fio condutor entre obras que realizei a partir desta região, do século XX para o XXI, a que chamei ‘Terra Quente, o Fim do Milénio’. Depois o fio condutor continua a partir de 2000, com cenas muito dramáticas, a que tosos temos assistido e continuamos a assistir”.
Graça Morais já dizia desde criança que queria ser pintora e assume que foi com grande teimosia que seguiu Belas Artes. Hoje em dia, diz que se encontrasse aquela pessoa, que tanto teimou em seguir este caminho, lhe diria que fez muito bem em ter feito o que fez. “Eu acho que um artista vai sendo reconhecido pelos seus pares e eu tive a sorte de ter encontrado, na minha vida, grandes escritores que reconheceram na minha pintura uma grande importância. Escritores como Miguel Torga, José Saramago, Agustina Bessa Luís, Sophia de Mello Breyner. O nome de um artista faz-se quando há pessoas de grande qualidade que vão falando dele e escrevendo sobre ele e foi isso que me tornou famosa”.
Graça Morais tem 76 anos. Nasceu no Vieiro, em Vila Flor. Quando era criança já tinha gosto e interesse por desenhar. Recorda que ia muitas vezes ao Museu Municipal Berta Cabral, quando foi estudar para Vila Flor, onde várias vezes desejava um dia pintar como os autores das obras que ali via.
Escrito por Brigantia