Seca obriga criadores transmontanos a desfazer-se do gado para não morrer à fome

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Qua, 24/05/2023 - 09:09


Vários criadores transmontanos estão a desfazer-se de parte do gado que têm para não verem os animais morrer à fome

São as consequências de mais um ano de seca. 2023 poderá ser muito pior que 2022 porque voltarão a faltar forragens mas desta vez não há reservas como havia em 2021.

A seca do ano passado complicou a vida aos criadores. Pouco ou nada se produziu para dar de comer ao gado e o que salvou um pouco a situação foi existirem algumas reservas de 2021. Como 2023 está a ir pelo caminho que está, não se prevendo produzir grande coisa e não havendo reservas, o único caminho parece ser o de reduzir ao efectivo.

Aníbal Ferreira, de Quintela de Lampaças, no concelho de Bragança, tem 95 cabras da Raça Preta de Montesinho, 155 ovelhas da Raça Churra Galega Bragançana Branca e 18 vacas. Mas já teve mais animais e pensa, não tarda, ter menos.

“Não há nada para lhes dar, não sei como vamos resolver o problema. O ano passado ainda tínhamos comida do ano anterior, este ano não temos nada, não há feno, não há centeio”, disse, acrescentando que reduziu o efectivo das vacas, tinha “30” e só tem “18”, admitindo que também vai ter que vender as ovelhas porque senão “vão morrer todas à fome”.

Hilário Pires, de Nunes, no concelho de Bragança, também seguiu a tendência da venda. Neste momento tem 140 ovelhas da Raça Churra Galega Bragançana Branca. Mas já teve 200.

“O mantimento era pouco, o feno era pouco, o ano passado não se colheu e este ano se vamos por este caminho ainda é muito menos, não chove, está tudo a secar. A erva que havia espigou”, referiu.

José Alberto Silva, de Soeira, no concelho de Vinhais, tem 330 ovelhas da Raça Churra Galega Bragançana Branca e ainda não se desfez de animais. Mas, em termos de alimentação, também está do lado dos que se queixam e diz que faziam falta apoios e incentivos.

“Falta incentivo, o que estão a dar é muito pouco. Não há jovens. Os anos também estão a ser cada vez mais difíceis em termos de clima”, disse.

Humberto Figueiredo, do Zeive, em Bragança, tem ovelhas e porcos. Tem 250 ovinos mas é mais um dos vários criadores que teve que vender gado. Ou isso ou deixá-lo morrer.

“Temos que reduzir, porque os custos cada vez são mais e os lucros cada vez são menos”, afirmou.

Segundo Manuel Rodrigues, secretário-técnico da Raça Churra Galega Bragançana Branca e da Raça Churra Galega Bragançana Preta, “há cada vez mais sócios” mas não há mais animais. Significa isto que quem opta por os ter já não quer grandes explorações. Em causa está mesmo a falta de comida. Não tendo o que dar ao gado também não vale a pena apostar em ter em grande número.

A nível nacional, há mais de 15 500 ovinos de Raça Churra Galega Bragançana Branca e 3 600 de Raça Churra Galega Bragançana Preta.

As queixas dos criadores à margem do XXVI Concurso Nacional de Ovinos da Raça Churra Galega Bragançana Branca, do VI Concurso Nacional da Raça Churra Galega Bragançana Preta e do VII Concurso Nacional da Cabra Preta de Montesinho, que decorreram na semana passada, no Recinto de Promoção e Valorização de Raças Autóctones, em Bragança.

Escrito por Brigantia

Jornalista: 
Carina Alves