Mulher que esteve sequestrada uma semana diz que não perdoa a filha

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Seg, 02/05/2011 - 12:22


Ficaram sujeitas a apresentações periódicas às autoridades as duas suspeitas de terem sequestrado uma mulher de 68 anos durante sete dias em Paredes, uma aldeia de Bragança. Etelvina Costa e Eugénia Gonçalves foram ouvidas por uma juíza do tribunal de Bragança no último sábado e acabaram por sair em liberdade.  

À saída, Etelvina Costa, filha da vítima, mostrava-se arrependida.

 

Garante que foi maltratada pela mãe desde criança e contou que não premeditou o sequestro e que a alegada cúmplice, irmã do namorado da mãe, apareceu de forma casual.

 

“Foi tudo muito rápido. Ela só foi lá tomar um café comigo e não imaginavam que a minha mãe estivesse lá. Aquilo foi tudo instantâneo e uma coisa levou a outra. Eu queria que ela ficasse cá até o Daniel se ir embora. Sempre cuidei dela. Ela não estava muito presa, porque ela mexia-se à vontade”, afirma.

 

Etelvina Costa confirma que foi por causa do namorado da mãe que decidiu prendê-la em casa durante uma semana.

“Fez tudo para me expulsar de casa, mas aquela casa foi construída por mim e pela minha irmã. Nós trabalhávamos como escravas na altura, de dia e de noite, e ele, o namorado da minha mãe, é que é o culpado de tudo. Desde Agosto passado que ele andava a incitar a minha mãe para que me pusesse na rua”, conta.

 

Quem ainda não se refez do susto foi Maria Ermelinda Costa, que não consegue acreditar no que lhe aconteceu. E logo pelas mãos da filha.

 

“Foi chocante para todo o mundo. Isto foi uma coisa que só o Hitler podia fazer isso, porque um ser humano não fazia isto. Não me deram quase nada de comer, era o café da manhã e era à uma e meia da tarde. Eu perguntei-lhe o que queria de mim, se queres a casa eu dou-te, nem que vá morar para debaixo da ponte. Mas meteu-se-lhe aquilo na cabeça e tinha que fazer mesmo. Ninguém tem nada que a expulsar, aliás eu dei-lhe uma entrada por pouco tempo, não era definitivo. Ela não queria que ninguém se aproximasse de mim e que eu não refizesse a minha vida de novo com ninguém. Eu na solidão não sou capaz de estar. Ela queria fazer de mim escrava para lhe fazer tudo a ela e aos filhos. Eu já trabalhei uma vida inteira e agora chegou a hora de descansar e aproveitar a minha vida com um companheiro que eu tenho”, conta a sequestrada.

 

Ermelinda Costa, nascida na Índia há 68 anos mas a viver em Portugal há mais de 50, garante que não consegue perdoar a filha.

 

“Não tem perdão. Eu ainda lhe disse para me soltarem que eu não as acusava, mas elas chegaram ao limite. Já fiz queixa. A Judiciária já veio aqui. Agora se as deixam soltas e depois me acontecesse alguma coisa não sei como vai ser. Eu quero viver a minha vida que resta em paz e sossego. Não a quero mais aqui em casa”, garante Ermelinda Costa.

 E desmente a filha. Diz que ouviu as duas agressoras a planear tudo e está mesmo convencida que a queriam matar.

“Às duas horas, a Eugénia esteve fechada na casa de banho, quem lá meteu a Eugénia foi a Etelvina, depois eu fui à casa de banho ela apanhou-me e aí fiquei durante dois dias. Para mim foi uma coisa inesperada e chocante. Em seguida a Eugénia tapa-me a boca, já vinham com luvas e tudo, preparadas para me eliminar. Magoou-me bastante e ainda me deitou a mão ao pescoço e assim me trouxe para a cozinha. Estava também a minha filha a agarrar-me, eu lutei com ela durante 5 minutos, mas lá me prenderam, com uns baraços dos fardos e levaram-me para o quarto e prenderam-me na cama de mãos e pés, vendaram-me os olhos, taparam-me a boca e os ouvidos”, conta a idosa sequestrada.

 

O cativeiro durou sete dias e sete noites, até que o companheiro acabou por dar o alerta às autoridades. Foi nessa altura que Ermelinda Costa aproveitou para escapar.

 

“Quando as autoridades apitaram eu ainda estava presa, mas já estava preparada para me desprender. Cortei os baraços, vim descalça, tranquei a porta com dois paus, fui à varanda a fugir e vi que eram autoridades, abri a janela e pedi socorro”, explica Ermelinda.

 Ermelinda Costa queixa-se ainda que lhe desapareceram valores de casa e teme pela sua segurança.

Durante o fim-de-semana, a filha não foi vista na aldeia.

Escrito por Brigantia