Mãe de Leandro ainda espera apuramento de responsabilidades dois meses depois

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Qua, 02/06/2010 - 12:57


  Foi há três meses que o Leandro morreu, nas águas do rio Tua, depois de ter saído da escola Luciano Cordeiro, na hora de almoço, sem que ninguém o tivesse impedido. A mãe da criança de 12 anos continua com esperança que o inquérito judicial vai ser justo e responsabilizar a escola.

Na pausa para o almoço, após mais uma manhã de aulas na Consultua (empresa de ensino e formação profissional), onde frequenta o curso de geriatria, Amália Nunes desloca-se, de mão dada com a filha de nove anos (Ana Catarina) e mais duas colegas, para o café “Batalhão”, a uma centena de metros da escola, caminho que percorre de segunda a sexta-feira.

Ainda sem deixar o luto, a mãe de Leandro acedeu a falar alguns instantes sobre o que mudou na sua vida familiar, nos últimos três meses. “Mudou tudo na minha vida, sinto um vazio muito grande pela falta do meu filho”, afirma.

Uma boa ajuda tem sido os encontros na associação “Nossa Ancora”, uma Instituição Particular de Solidariedade Social que pretende ajudar os pais em luto a encontrarem novos estímulos na vida, ajudando-os a reencontrar alguma serenidade e a aprender a viver com uma ferida que nunca mais vai sarar totalmente. “É importante, porque vemos mais pessoas a sofrer desta dor que é a perda de um filho e como vamos desabafando, parece que saímos de lá mais aliviados, mas depois voltamos ao mesmo”, afirma.

No último mês, Amália tem a seu cargo os dois filhos, enquanto o marido (Armindo Pires) está em França, em trabalho sazonal. “Teve de ir à apanha do morango, porque a vida tem de continuar e as despesas são muitas”, refere.

Já quanto aos irmãos de Leandro, as reacções têm sido diferentes. “A Ana Catarina está recuperar bem, mas o Márcio” (irmão gémeo de Leandro) “está totalmente diferente, não tem nada a ver com a criança que era. Anda a ser acompanhado por um psicólogo, mas agora está revoltado com tudo e com todos”, conta Amália, desviando o olhar para conter as lágrimas.

Outra preocupação começa a assolar esta mãe. A partir de Setembro, a Ana Catarina vai deixar de frequentar a escola de Carvalhais e vai passar para a Luciano Cordeiro. “Estou muito assustada porque entendo que aquela escola não tem condições de segurança, mas o problema é que não existem alternativas”, diz Amália Nunes.

A Inspecção-Geral de Educação isentou a escola de responsabilidades, na morte do Leandro, mas apontou para falhas do porteiro, levando a câmara municipal a instaurar-lhe um processo disciplinar. Mas, Amália entende que “os que mandam na escola têm mais culpa que o porteiro”, afirma. “Continuo a ter esperança que se faça justiça e que se encontrem os responsáveis pela morte do meu Leandro”, referindo-se ao inquérito judicial, cujas conclusões ainda não são conhecidas.

Recorde-se que a Inspecção-Geral de Educação e o Ministério Público (MP) abriram inquéritos ao caso. O primeiro isenta a escola de responsabilidades e conclui que não se trata de um caso de bullying, nem tão pouco aponta para que a criança tenha sido agredida, não propondo a instauração de procedimento disciplinar a responsáveis na dependência directa do Ministério da Educação.

No entanto, deixa entender que possa haver responsabilidades a apurar junto dos funcionários, cuja tutela é da responsabilidade do Município que ordenou a instauração de um processo de averiguações sobre o controlo das entradas e saídas da escola, que resultou num processo disciplinar a um porteiro que incorre numa sanção que pode ir de uma simples advertência até à expulsão da Função Pública, por ter resultado a morte de um aluno.

Ainda falta conhecer as conclusões do inquérito judicial, apesar do Procurador já ter ouvido os pais, no dia 27 de Abril. A PSP de Mirandela, a quem foi entregue o processo numa primeira fase, acredita que Leandro não terá reflectido sobre as consequências do seu acto e entrou nas águas do rio Tua com a intenção de sair, mas a elevada corrente que se fazia sentir acabou por ser fatal.

Escrito por CIR