Qui, 15/01/2009 - 12:18
"No Rio de Janeiro, quem quer ser policial tem que escolher: ou se corrompe, ou se omite, ou vai para a guerra".
É assim que abre o segundo tema, 'Invasão do BOPE', da banda sonora do filme "Tropa de Elite".
O BOPE é a sigla por que responde o Batalhão de Operações Policiais Especiais, que integra a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, no Brasil.
O filme, vencedor do Urso de Ouro na edição 2008 do Festival de Berlim, retrata essa unidade especial que frequentemente faz incursões em favelas e se envolve em confrontos directos com traficantes.
Realizado por José Padilha, "Tropa de Elite" conta a história do Capitão Nascimento, chefe máximo de um esquadrão do BOPE. Com os dois pés na reforma, um por estar quase a ser pai, o outro por causa dos suores frios associados a uma profissão de alto risco, ele quer encontrar alguém à altura de assumir o cargo.
Os recrutas Neto e Matias despertam-lhe a atenção e o filme evolui a partir daí, sem deixar de denunciar o recurso à tortura como técnica de investigação na unidade.
Ora, o problema maior das bandas sonoras é que têm de abdicar das imagens do filme para contar a mesma história, ou uma parte dessa história.
Acontece que algumas conseguem ter vida própria para além do grande ecrã, outras não são mais do que um pobre complemento.
Uma boa forma de chamar para a música a magia do escurinho do cinema é a recuperação em disco dos diálogos do filme.
E isso acontece neste caso, com a recriação, por exemplo, da invasão do BOPE.
O disco abre com o 'Rap das Armas', um tema que junta os dois MCs Junior e Leonardo à Bateria da Rocinha e que convoca as linguagens do hip-hop e do samba mais infectado.
E fecha com o mesmo tema mas numa versão mais funk do que samba.
O mesmo trio de colaboradores ainda assina 'Nossa Bandeira', onde se fala de "preconceito social" e sobre "o que te faz ser um doutor e o que te faz ser marginal".
É a velha história de que não se escolhe uma vida de crime, é-se escolhido pelo crime.
A banda sonora ganha muito nos temas instrumentais, como 'Andando pela África', 'Tropa de Elite' ou 'Guerra da Carne', e na tal recuperação dos diálogos do filme.
Mas perde-se sem remédio em 'Kátia Flavia, a Godiva do Irajá' (espremida, só sai testosterona), 'Lado B Lado A' (anda perdida no alinhamento, apesar de ser escrita pel'O Rappa, uma das mais interessantes consciências da sociedade brasileira actual) e na rockalhada inconsequente da 'Polícia' dos Titãs.
O som da metralhadora sempre rimou melhor com a batida quente e suada do funk do que com as guitarras ao alto.
E, na realidade, vale sempre mais ver o filme do que levar com uma versão amputada que tira as cores para aumentar os graves.