Seca está a fazer as culturas subirem em altitude

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Qua, 07/09/2022 - 11:06


A seca que o país está a atravessar está a fazer subir algumas culturas a altitudes nunca antes pensadas. Este é um dos efeitos do que estamos a viver mas, noutros aspectos, para já, o cenário não é grave.

Carlos Aguiar, agrónomo e docente do Instituto Politécnico de Bragança, admite que, devido à seca, alguns cenários não são tão negros como se acredita que sejam. O que se está a verificar é que estas mudanças de tempo estão a fazer subir algumas culturas em altitude.

“Há uma tendência para menor precipitação e, ao mesmo tempo, de subida de temperatura, sobretudo das temperaturas de Inverno. Assim é expectável que algumas culturas subam em altitude, já vemos isso no caso do castanheiro, que está a ser cultivado em altitudes que ninguém esperava que algumas vez fossem e vemos a amendoeira a entrar pelos 700 metros adentro”, refere.

Além das questões de geografia, Carlos Aguiar admite que a seca traz consequências às plantas de interesse económico, já que, não tendo tanta água produzem menos. Quanto às outras plantas lenhosas, o que estamos a atravessar não tem um impacto assim tão grande.

“Não precisamos de nos assustar, por exemplo, com as copas secas de algumas árvores, como se viu no começo de Agosto, nomeadamente carvalhos, isso é adaptativo, ou seja, é apenas uma resposta eco-fisiológica, o que vai acontecer é que em algumas vai cair a folha mais cedo do que o normal, mas muitas dessas plantas, já cumpriram o seu ciclo reprodutivo”, afirmou.

O que é factual, admite Carlos Aguiar, é que "as coisas estão a mudar" e "99% dos especialistas em clima estão de acordo de que há um problema de aquecimento global". Ainda assim, considera que "temos os instrumentos para enfrentar o que está a acontecer" e são bastante simples.

“Agricultura, plantação de árvores, pastorícia e fogo controlado, ou seja, os fogos aplicados durante o Inverno, retiramos aos pastores esse instrumento fundamental como a charrua está para o agricultor”, afirmou.

Estes instrumentos são também importantes no que toca aos incêndios, perspectivando fogos com menos impacto e dimensão.

“Olhando para os incêndios de 2017, Trás-os-Montes foi das regiões menos afectadas, porque tem uma área muito significativa de agricultura com plantas lenhosas. Ou seja, a expansão da amendoeira, da oliveira e do castanheiro reduziu os riscos e estragos causados por incêndios”, afirmou.

Carlos Aguiar admite que estamos perante mudanças importantes e, por isso, temos todos que estar muito atentos.

O agrónomo esclareceu ainda que “há uma tendência para Invernos mais amenos, Verões um pouco mais quentes e eventos meteorológicos mais excessivos, como este que estamos a viver”. Resta que as pessoas e as plantas se adaptem e a expectativa é que isso mesmo aconteça. Escrito por Brigantia.

Jornalista: 
Carina Alves