Qua, 24/04/2019 - 10:48
Em estudo, está a possibilidade de o lixo ser usado para fazer blocos de construção, para produzir energia ou para tratamento de águas residuais industriais, e já há resultados positivos.
O projecto transfronteiriço Valorcomp está a ser desenvolvido por um consórcio de cinco entidades: a Resíduos do Nordeste, a Fundação Cidaut, a Universidade de Valladolid, a empresa espanhola Nertatec e o Instituto Politécnico de Bragança, que o coordena a iniciativa.
Na investigação, é usado como base o resíduo orgânico ou composto. No IPB estuda-se a vertente de valorização de matérias. E o composto pode resultar num produto adsorvente que serve como filtro, fixando a matéria não orgânica dos efluentes, o que ajuda a despoluir as águas.
“Temos como objectivo produzir materiais catalíticos e adsorventes para processos tratamento ambiental”, através de um processo de “oxidação química de compostos orgânicos presentes em águas” e até “efluentes originários de indústrias”, para além da “incorporação da matéria-prima na fabricação de tijolos solo-cimento”, explicou Helder Gomes, coordenador do projecto. “O que nós desenvolvemos são processos alternativos para o tratamento de compostos que não são biodegradáveis, tipicamente existentes em indústrias químicas”, explica o investigador.
Posteriormente, uma das utilizações pode ser o tratamento de efluentes com vestígios de fármacos, como antibióticos, que não são totalmente absorvidos pelo organismo e acabam a poluir as águas.
“É possível começar a tratar também esse tipo de poluentes, que se acumulam nas águas e com tecnologias de oxidação química é possível depurar mais as águas que saem de uma ETAR, por exemplo”, adianta Helder Gomes.
A incorporação desta matéria-prima, criada nos laboratórios do IPB, na fabricação de blocos de solo-cimento é outra das investigações em curso no IPB. A responsável por esta parte do projecto Débora Ferreira, do departamento de mecânica aplicada, explica que o produto já está em fase de testes e com bons resultados.
“Para já está a correr bem e neste momento já temos uma parede que construímos. O produto está a ser alvo de ensaios de comportamento, para se fazer a caracterização mecânica do bloco, em termos de resistência mecânica, a nível térmico e de qualidade do ar”, expicou.
A matéria usada provém do Parque Ambiental da Resíduos do Nordeste, onde os resíduos orgânicos já produzem biogás e fertilizante.
No entanto, o objectivo é aproximar a Resíduos do Nordeste da máxima da economia circular de aterro zero, através da valorização deste material, explica Paulo Praça, director da empresa responsável pelo tratamento do lixo no distrito de Bragança e no concelho de Vila Nova de Foz Côa.
“O que levou a Resíduos do Nordeste a lançar este desafio à investigação foi o facto de constatarmos que hoje há resíduos que não têm valorização. Há valorizações que nalguns casos já se fazem mas há outras mais nobres”, explicou.
O projecto apoiado por cerca de um milhão de euros de fundos comunitários no âmbito do programa Interreg, tem ainda uma vertente de valorização energética, já em fase de testes à escala piloto, com “pellets” para produção de energia, e uma vertente de valorização agronómica, virada para a produção de fertilizantes líquidos.
Os resultados desta investigação ibérica deverão ser apresentados no final deste ano. Escrito por Brigantia.