Depois de cortarem A4 agricultores estão reunidos com ministra da Agricultura via online para negociações

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Qui, 08/02/2024 - 12:22


Dezenas de agricultores fecharam a A4, no nó com o IP2 perto da zona da Amendoeira, Macedo de Cavaleiros

Os tractores impediram a passagem de automóveis nos dois sentidos.

Estão revoltados e desesperados com o atraso do pagamento dos subsídios e com a desvalorização do sector. Os apoios deveriam ter sido pagos até ao final do ano passado, mas foram adiados para Junho deste ano, o que é incompreensível. “Os agricultores de Trás-os-Montes estão a ser muito injustiçados. A nossa vida não pode continuar sem haver os pagamentos, que tinham que ser feitos até 31 de Dezembro e nós agora queremos alguma resposta para que nos digam quando é que nos vão pagar. Têm saído vários comunicados do Ministério da Agricultura e nós ainda não vimos nenhuma resposta que nos diga quando é que vamos receber. Nós precisamos do dinheiro. Vários agricultores que estão aqui estão a pedir empréstimos para fazer o pagamento do que devem”, afirmou o agricultor Luís Reis.

A Ministra da Agricultura anunciou um pacote de 400 milhões de euros. 50 milhões seriam avançados para empréstimos, mas os agricultores não querem dinheiro emprestado, querem o que foi contratualizado. “A ministra deliberou 50 milhões para empréstimos para os agricultores. Porque é que esses 50 milhões não são para pagamentos? Porque é que não faz os pagamentos em vez de andar a dar dinheiro para os empréstimos? É tão simples quanto isto. Não queremos fazer empréstimos, nós queremos é o dinheiro que é nosso. Nós assinámos os contratos e tinha que ser pago até à data que estava estabelecido”, frisou.

Manuel Pedro foi um dos agricultores que se juntou ao protesto. Tem 64 anos e toda a vida viveu da agricultora. Nunca viu o sector nesta situação. “Estão-nos a cortar os subsídios e colocam muitas restrições. É difícil continuar sem os subsídios, se o produto é a baixo preço, se não nos derem os subsídios não ganhamos nada. É trabalhar para empobrecer alegremente”, vincou.

Emanuel Batista, um dos organizadores do protesto, lamenta que o ministério não funcione e que haja tanta burocracia que só causa entraves. “É incompreensível termos que chegar a este ponto, porque o nosso Ministério não funciona, porque dois dias antes de fazer os pagamentos é que vem dizer aos agricultores que vai cortar 35% na agricultura biológica e 25% na produção integrada, isso não pode ser. Os agricultores transmontanos também estão tristes, porque em Trás-os-Montes não há falta de água, mas falta de lugares de armazenamento de água. Porque a APA e o Ministério do Ambiente tornam difícil licenciar as charcas? Trás-os-Montes precisava que o ajudasse nos licenciamentos, que fossem mais rápidos”, disse.

O agricultor apontou ainda a pecuária também está atravessar uma fase difícil, uma vez que não está a haver sanidade animal. “Desde Janeiro que não temos sanidade animal. Não há tiragem de sangue, pode estar aqui a saúde pública em causa, por um erro do Ministério da Agricultura em dar os animais correctos para que no Orçamento de Estado tivesse financiamento para os laboratórios fazerem as análises, isto é inadmissível”, salientou.

O fecho da auto-estrada possibilitou negociações com a ministra da Agricultura. Para já não há promessas, mas conseguiram marcar reuniões e aqui na região. “Já falámos com a ministra e com o chefe de gabinete dela e vamos reunir com ela hoje ao meio dia, na câmara de Macedo, via online e na segunda-feira, às 16h, na câmara de Macedo presencialmente. A única coisa que pedimos ao chefe de gabinete da senhora ministra foi para imprimir um cartaz grande para colocar nas paredes de que terça-feira se não chegarmos a acordo, como já fizemos a primeira vez, não custa voltarmos a fazer a segunda”, disse um dos porta-vozes do protesto.

A reunião via online ao final desta manhã fez os agricultores desmobilizar e permitir que a auto-estrada abrisse e a circulação retomasse a normalidade.

Enquanto os agricultores protestavam em Macedo de Cavaleiros, outros protestavam no nó do IC5 com o IP2, em Vila Flor. A via também esteve com alguns condicionamentos.

Já a semana passada, os agricultores protestaram em Mogadouro e chegaram a fechar a fronteira de Bemposta.

Garantem que não sairão da rua enquanto não conseguirem aquilo que querem, mas têm a certeza que os 400 milhões de euros, mesmo que sejam aprovados, não chegarão este ano aos agricultores, porque precisa de luz verde da União Europeia.

Conclusões da reunião online

Luís Reis, um dos organizadores do protesto, conta que foi uma reunião bastante positiva e foram feitas algumas promessas. “Em primeiro lugar exigimos que nos dissesse uma data para os pagamentos. Ela disse que entre dias 20 e 24 de Fevereiro vai fazer os pagamentos dos eco regimes, os 60%. Os 35% na biológica e os 25% na produção integrada que tinham determinado que iriam ser cortados, também nos disse depois que afinal vão ser repostos a todos os agricultores, dentro de dois ou três meses”, avançou.

Uma vez que a 10 de Março tudo pode mudar e a ministra pode já não ser Maria do Céu Antunes, os agricultores exigem que fique claro o que está a ser prometido. “Nós queremos que isso fique expressamente explícito para termos a certeza que vamos receber essas percentagens que inicialmente diziam que iriam cortar”, referiu.

Na segunda-feira, os agricultores voltam a reunir com a ministra da Agricultura, mas desta vez presencialmente, na Câmara de Macedo de Cavaleiros.

Escrito por Brigantia

Jornalista: 
Ângela Pais