Qui, 11/07/2024 - 12:36
Este é um problema que tem assolado os criadores da região, um pouco por todo o lado. A preocupação foi manifestada por Basílio Martins, presidente da direção da ANCORCB – Associação Nacional de Criadores de Ovinos de Raça Churra Badana, estando já a tosquia deste ano já terminada, os armazéns ainda ficaram mais cheios com o stock de lã, acumulando o produto de diversos anos. “Temos aí um problema enorme, em que os criadores têm ficado com a lã sem a conseguir escoar e está a começar a ser um problema porque se formos visitar os criadores na região, eles não têm onde colocar a lã. E não podem fazer nada com a lã. Portanto têm as corriças e os armazéns cheios de lã sem saber o que lhe fazer. E a direção desta associação está a tentar resolver esta situação", vincou.
O que acontece é que este produto deixou de ter valor no mercado, estando a ser substituído por materiais sintéticos, como lamenta o representante desta raça de ovinos, que se encontra em vias de extinção. “Neste momento não tem valor. As fibras sintéticas vieram substituir a lã. E neste momento, não há uma fileira que efetue o escoamento da lã. Antigamente, tínhamos tudo, os lavadouros, as fiações… Hoje não temos nada disso. Temos que começar do zero, para começar a colocar a fileira da lã a funcionar. E portanto, a lã deixou de ter valor", lamentou-
A ANCORCB representa 22 criadores de gado de Macedo de Cavaleiros, Mirandela, Valpaços, Mogadouro, Alfândega da Fé e ainda com cerca de 300 cabeças no Alentejo.
No concelho de Macedo de Cavaleiros tem 1400 exemplares e ainda 450 em Valpaços e 150 em Mirandela. Num total de efetivo de 2340 fêmeas e 78 machos.
Esta raça em vias de extinção é distinta por ser uma ovelha de pequena dimensão, com uma cor de lã, mais escura, rústica e grossa que antigamente se usava sobretudo para fazer tapetes. As ovelhas badanas são de uma elevada capacidade maternal, com um perfilhamento dos filhos também elevado, que se adapta bastante bem à orografia da região e mesmo nos anos mais secos, conseguem sobreviver, mesmo existindo uma fraca disponibilidade alimentícia, com restolho, fiolho, entre outros.
A mesma preocupação é partilhada pelo produtor, Arménio Vaz, com cerca de 400 cabeças de gado, de Avidagos, no concelho de Mirandela, que conta que não tem onde colocar a lã e não sabe o que fazer. “Esse era um artigo que antigamente era muito valorizado e que antigamente não tem havido escoamento do produto. Posso lhe dizer que tenho ali bastante lã armazenada, porque não há quem a recolha. Antigamente, era um produto bastante valorizado, com muitos interessados em adquirir esse produto. Nos últimos anos, ninguém procura lã", disse.
A juntar-se a este problema também se sente a falta de mão de obra no setor, em que já ninguém quer ser pastor, como acrescenta. "Os nossos criadores aqui do concelho, e a nível nacional, estão cada vez mais envelhecidos e a juventude não quer abraçar esta atividade porque é muito trabalhosa. Isto requer dias santos, feriados, domingos. Todos os dias se tem de tratar dos animais, como por exemplo, a ordenha. A mocidade não vê esta atividade muito atrativa, e é como disse, quando esta geração mais antiga deixar de fazer a pastorícia não vai ser fácil", acrescentou.
A lã é a proteção térmica das ovelhas, mas com o verão à porta, poderá causar perda de peso no animal, provocar doenças ou até mesmo a morte do animal.
Escrito por Onda Livre (CIR)
Foto: ANCORCB