Comandante da PSP enfrenta queixa por usar gás-pimenta

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Qui, 09/02/2012 - 09:54


O comandante da PSP de Mirandela foi alvo de uma queixa apresentada pela mãe de um jovem que se fechou no quarto com uma faca ameaçando suicidar-se. A mulher acusa o subcomissário da PSP de ter utilizado gás pimenta para tentar forçar a saída do filho e depois abandonar a casa sem verificar qual o estado em que ficou o rapaz. 

O caso remonta a 15 de Janeiro.A meio da tarde Ana Paula solicitou colaboração policial porque o seu filho David, de 17 anos, se tinha fechado no quarto munido de uma faca e tendo colocado uma comoda atras das porta e atravessado a cama, alegando que pretendia suicidar-se.Poucos minutos depois chegam dois agentes da PSP que apesar de diversas tentativas de diálogo com o jovem não tiveram sucesso, solicitando apoio ao comandante da esquadra.Rui de Carvalho tentou de diversas formas demover David das suas intenções mas também não teve sucesso.Cerca de uma hora depois o jovem enviou uma mensagem por telemóvel para o irmão, que também se encontrava em casa, a pedir um cigarro.Nessa altura o comandante mandou dizer ao irmão que só lhe dava o cigarro em troca da faca, mas ele recusou a proposta.Mais tarde, o subcomissário terá dito ao irmão para avisar o jovem que lhe seria concedido o cigarro, situação aproveitada para lançar o gás-pimenta, refere Ana Paula.“Quando o meu filho ía dar o cigarro ao irmão e o irmão abriu um bocadinho a porta apenas só para o cigarro passar. As luzes apagaram e o meu filho só ouviu uma voz por trás a dizer ‘bota, bota, bota’. Apercebeu-se que estavam dois agentes a meter gás para dentro do quarto” conta, acrescentando que “quando o David se apercebeu que estavam a meter gás para dentro do quarto começou aos murros, ficou fora de si e deu uma facada na porta”.Esta actuação deixou indignada a mãe de David porque considera que poderia ter sido o atear de uma tragédia.Mais indignada ficou Ana Paula quando o comandante da PSP ordenou a todos os agentes presentes para abandonar a residência daquela família ainda com o jovem no interior do quarto, munido da faca.“O comandante não pensou no que fez porque tal como o meu filho deu a facada na porta também a podia dar nele ou deitar-se da janela abaixo. O David fechou a porta e perdeu a confiança no irmão, não quis mais contacto com ele” refere.Ainda nessa noite foi à esquadra a pedir explicações ao comandante por ter abandonado o local mas não conseguiu obter resposta.Posteriormente escreveu no livro de reclamações da esquadra onde criticou a prestação da comandante.“O comandante não estava e eu pedi para falar com um superior para me dar uma justificação pelo abandono da minha casa quando deitaram gás-pimenta para dentro do quarto e o meu filho se encontrava ainda lá dentro com a faca” afirma. “O agente respondeu-me para ir para casa tratar do meu filho e deixar a PSP em paz. Eu vim de lá ainda mais revoltada” acrescenta.Além disso, Ana Paula fez uma participação ao ministério Público acusando Rui Carvalho de ter lançado gás-pimenta e de abandonar o seu filho.Mas também aqui diz que sentiu alguma resistência dos agentes da PSP para efectuar a participação, para além de estranhar ter de pagar mais de 30 euros. “Deram-me a participação que eu fiz contra o comandante mas tive que pagar 33 euros por ela e eu gostava de saber se isso é legal porque eu acho que não é muito normal” refere.Ana Paula pretende um pedido de desculpas do comandante da PSP de Mirandela e garante ter recebido um telefonema do comandante distrital a pedir desculpa pelo sucedido.Confrontado com esta acusação, Rui de Carvalho remeteu esclarecimentos para o comandante distrital de Bragança.Sem gravar declarações, Amândio Correia começa por referir que compreende a complexidade do caso, dado que se trata de um problema familiar delicado. No entanto, considera que os agentes e o comandante “actuaram de forma aconselhável tendo em conta as circunstâncias que se lhe apresentaram no local porque a PSP não pode dirimir conflitos de natureza privada, entre portas”, afirma.O comandante distrital reconhece que a utilização do gás “não surtiu o efeito desejado, talvez tenha sido contraproducente, mas foi a solução que, no momento, pareceu poder ser útil e eficaz”, diz.Quanto à ordem para os agentes abandonarem o local, Amândio Correia afirma mesmo ter sido ele a dar essa indicação ao comandante de Mirandela, após saber que o David colocou como condição para sair do quarto que a PSP abandonasse a residência.

Quanto ao pedido de desculpas que Ana Paula atribuiu a Amândio Correia, o comandante distrital confirma que o fez, por telefone, mas sublinha que apenas pediu desculpa pela eventual falta de simpatia que o comandante de Mirandela terá tido quando recebeu esta mãe, mesmo sem saber se terá sido assim”, conclui.

Escrito por Terra Quente (CIR)