Centenas de pessoas protestaram contra o encerramento urgência cirúrgica de Mirandela

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Seg, 27/11/2023 - 17:00


“Um cordão humano de abraço ao hospital de Mirandela”. Foi assim que o executivo da Câmara de Mirandela chamou à iniciativa que realizou esta tarde, e que juntou algumas centenas de pessoas naquela unidade hospitalar de saúde com o propósito de demonstrar o descontentamento pelo encerramento provisório da valência de cirurgia-geral do serviço de urgência do hospital, até ao final de novembro, receando que venha a tornar-se definitivo

“Quisemos chamar a atenção aos nossos governantes que apesar deste tempo difícil das urgências e das greves às horas extraordinárias dos médicos, não queremos que isso sirva de argumento para que a cirurgia da urgência do hospital de Mirandela continue encerrada”, explicou a presidente do Município.

Júlia Rodrigues justifica esta tomada de posição perante a falta de garantias da administração da Unidade Local de Saúde do Nordeste (ULSNE), a entidade que gere os três hospitais do distrito. “A justificação que nos deram foi que depois das greves iria reabrir, mas não nos foi dada a certeza de que isso vá acontecer e como já aconteceu no passado a retirada de outros serviços, temos muito receio que esta medida passe a ser definitiva”, refere a autarca socialista, lembrando que está em causa o serviço de urgência aos mais de 44 mil habitantes dos concelhos de Mirandela, Alfândega da Fé, Vila Flor, Carrazeda de Ansiães e Torre de Moncorvo. “O sul do distrito de Bragança escoa para Mirandela pelo que estas urgências são vitais para a nossa região”, adianta.

Alguns dos participantes na iniciativa não escondem a sua indignação com a possibilidade de perderem mais uma valência, não esquecendo o fecho da maternidade, em 2006. “Querem levar tudo daqui. Tínhamos muitas valências, mas aos bocadinhos foram tirando tudo”, lamenta Fátima Cordeiro, uma das participantes. “Ainda dei aulas no tempo do Salazar e vi nascer este hospital, mas deixaram levar tudo e cada vez estamos pior”, afirma uma professora aposentada. “Não tenho dúvidas que eles querem é fechar isto”, diz Manuel Ribeiro.

A especialidade de cirurgia-geral da urgência do hospital de Mirandela, está, desde o passado dia 8 de outubro, sem qualquer especialista de serviço, e assim vai estar, pelo menos, até ao dia 30 de novembro, dado que é a data limite da validade das escalas.

Os três cirurgiões que sempre estiveram afetos ao serviço de urgência do hospital da cidade mirandelense, foram alocados, desde aquela data (8 de outubro) à urgência do hospital de Bragança, alegadamente, por constrangimentos na elaboração de escalas devido à recusa da maioria dos médicos em realizar trabalho extra para lá das 150 horas.

Até ao momento, a administração da ULSNE nunca deu qualquer explicação oficial para esta medida, nem tão pouco esclarece se a situação será apenas provisória ou poderá vir a ser definitiva, tendo em conta que dois dos três especialistas, agora alocados a Bragança, já têm uma idade avançada (68 anos) e se não houver novas entradas pode estar em causa, em definitivo, aquela valência em Mirandela. “É sempre dito que isto é determinado por fatores externos à ULSNE, nomeadamente a disponibilidade de médicos, mas nós temos aqui médicos que forram deslocados para Bragança e queremos que regressem depois deste período de greves”, sublinha a presidente da autarquia.

Desde o início de outubro, os doentes que necessitam de ser vistos por um profissional de saúde daquela área, ou que tenham de ser submetidos a uma intervenção cirúrgica urgente, estão a ser encaminhados para o serviço de urgência do Hospital de Bragança, a 60 quilómetros de distância.

No entanto, vários profissionais de saúde do hospital da cidade transmontana confidenciaram que existem rumores de que os três cirurgiões em causa já não regressam e com isso pode significar o princípio do fim da urgência Médico-Cirúrgica (UMC).

PSD LOCAL RESPONSABILIZA O PS

A concelhia do PSD de Mirandela também disse presente ao cordão humano promovido pelo executivo socialista do Município. “Estamos cá para defender os serviços públicos do concelho, ao contrário do que o executivo fez há uns meses atrás quando não esteve na manifestação contra o encerramento da Direção Regional de Agricultura”, lembra António Martins, membro da estrutura concelhia dos laranjas.

No entanto, o PSD também aproveitou a iniciativa para apontar o dedo ao PS local e nacional sobre a situação que o concelho está a viver, colocando uma tarja, nas proximidades do hospital, onde podia ler-se: “PS, o coveiro do hospital de Mirandela”.

António Martins refere que, no século XXI, “o executivo PS tem 16 anos de funções e conduziu-nos a este estado. A maternidade fechou por um despacho de um executivo socialista. A cirurgia fecha por um despacho do partido socialista e isto é que tem de ser discutido”.

Perante isto, o dirigente social-democrata avisa que mirandelenses “têm de estar muito atentos ao que está a acontecer, porque não basta virmos aqui com floreados, como estamos a fazer hoje, quando depois quando temos de tomar posições públicas não as tomamos” e lança um desafio ao executivo socialista: ”que apresente as posições que tem tido nas reuniões onde participa e que nos apresente aquilo que tem defendido para a região em termos de saúde”.

Escrito por Terra Quente (CIR)