Crise na colheita de maçã em Carrazeda de Ansiães

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Ter, 02/09/2008 - 09:16


Vêm aí dias difíceis para as empresas ligadas à maçã, em Carrazeda de Ansiães. A poucos dias da colheita deste ano já deu para perceber que os prejuízos, na maior parte dos pomares, se situa entre os 90 e os 100 por cento. Duas intempéries de granizo, em Maio e em Junho, deitaram por terra uma campanha promissora, relegando a fruta para a produção de concentrados, onde o quilo é pago a cerca de quatro cêntimos.  

O problema é que as empresas precisam de maçã qualificada para satisfazer os clientes habituais e ter mais-valias para suportar o seu funcionamento.

A crise afecta todos os produtores do concelho, mas a empresa Frucar, que comercializa cerca de metade da maçã produzida, está a braços com a iminência de despedir funcionários ou mesmo encerrar as portas. “Os prejuízos são elevadíssimos e temos muitos encargos com o pessoal” refere o gerente da Frucar. “São 10 pessoas que temos no quadro da empresa e cerca de oito sazonais” acrescenta.

 

Ainda segundo, António Augusto, foi pedida ajuda à Direcção Regional de Agricultura, nomeadamente a isenção temporária do pagamento das remunerações à Segurança Social relativas aos funcionários da empresa, a abertura de uma linha de crédito por cinco anos para assegurar compromissos da instituição e despesas correntes, e ainda o atraso de um ano na reposição de verbas ao Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas. A resposta foi negativa para todos os pedidos. “Custa-nos que os nossos governantes olhem para a agricultura desta forma” afirma. “Nós pedimos medidas de excepção para uma casa que está em vias de fechar as portas por causa desta catástrofe” refere António Augusto.

 

Mas esta crise da maçã não afecta apenas a empresa Frucar.

Os grandes produtores que também têm estruturas de comercialização, também não vislumbram melhores dias.

José Bernardo, da Quinta da Aveleira, é um dos exemplos. “Nós temos prejuízos dos 95 aos 98% e estamos a falar de 1200 toneladas de maçã que têm de ir para a indústria” afirma. Por isso, “este ano não vai haver trabalho para quem costumava apanhar”.

 

José Bernardo desmente também uma ideia corrente de que os anos de intempérie são os melhores para os fruticultores, uma vez que acabam por lucrar mais com os seguros do que com a própria colheita. “A produção é toda segurada mas existe uma franqueia de 20% por conta do segurado e não é para ganhar dinheiro com ele mas para minimizar os prejuízos”.

 

José Bernardo também é dirigente da Associação dos Fruticultores, Viticultores e Olivicultores do Planalto de Ansiães e adianta que 2008 é ano de crise para todos os produtores de maçã do concelho, que no seu conjunto tratam de 500 hectares de pomares, que produzem cerca de 10 mil toneladas de fruta.