Qui, 16/09/2021 - 09:25
Devido à pandemia o javali foi pouco caçado, por isso, o ICNF decidiu abrir uma época de excepção de caça para controlar a densidade populacional desta espécie. No entanto, coincide com o período de reprodução do lobo ibérico, que é entre Maio e Setembro. Sara Pinto, da Associação Palombar, em Vimioso, explica que os tiros e cães podem fazer dispersar os lobos. “Não é só a questão dos tiros, obviamente que os lobos também podem ser mortos acidentalmente, no acto cinegético, mas é também a perturbação que pode ser trazida pelos cães, já que está previsto que possam existir até 20 cães de caça, tanto no período diurno como nocturno. Tudo isto pode ter uma enorme implicação na sobrevivência das crias e nas dinâmicas da alcateia, que podem ter que se deslocar para outros locais que não são tão favoráveis ou tranquilos”.
Segundo os últimos censos, realizados há cerca de 20 anos, havia 300 lobos ibéricos em todo o país, distribuídos por 60 alcateias. Sara Pinto afirma que este é um número preocupante, já que o lobo é uma peça chave no equilíbrio dos ecossistemas e que contribui até no controlo do javali. “Tem um efeito em toda a cadeia trófica, o que significa que espécies presa, como o javali, vão estar necessariamente mais controladas em zonas onde existam lobos. Além da densidade de javali ser possivelmente menor, tudo isto tem outro efeito, a nível da sanidade das espécies presa. O lobo tenta capturar presas que tenham alguma doença ou problema”.
Contactado o ICNF, esclareceu que a caça ao javali nesta altura foi determinada para “prevenção da peste suína africana” e também para “minimizar os danos causados em culturas agrícolas e florestais”. Salientou ainda que estas “autorizações de correcção extraordinária de densidade de javali têm em atenção que não devem abranger áreas de reprodução de lobo”.
Escrito por Brigantia