Idoso sem Complemento Solidário por falta de BI

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Sex, 19/09/2008 - 09:14


  É um caso insólito. No concelho de Bragança há um idoso que não existe. Para o Estado Benjamim Fidalgo não é cidadão porque não tem Bilhete de Identidade (BI) e o documento tem-lhe feito muita falta para conseguir obter o complemento solidário para idosos junto da Segurança Social.

Benjamim Fidalgo vive na Quinta de Valprados, em Milhão. Tem 81 anos mas não sabe onde nasceu, nem tão pouco se lembra de ter conhecido algum familiar. Tem apenas vagas recordações de uma prima que antes de falecer garantiu à sua esposa, Teresa Rodrigues, que Benjamim veio do Brasil. Casado só pela igreja, Benjamim Fidalgo, garante não ter o registo civil do matrimónio, nem a sua esposa, cujo bilhete de identidade a identifica como solteira.

A situação poderia ser caricata, não fosse o facto de Benjamim Fidalgo estar dependente da certidão de nascimento. Este cidadão requereu o complemento solidário para idosos, que só lhe pode ser atribuído com a apresentação do BI. Ora, Benjamim Fidalgo não tem documentos, muito menos a certidão de nascimento e possui apenas o cartão de eleitor.

“Noutro dia veio cá a guarda para me prender por não ter o bilhete de identidade”, contou à Brigantia. “Eu não tenho papéis nenhuns e não tenho culpa porque não conheci nem pai nem mãe”, lamenta-se o idoso de Milhão.

 

A esposa, Teresa Rodrigues, confessa que uma prima de Benjamim lhe disse que o marido nasceu no Brasil. No entanto, a prima já faleceu há muitos anos e não há registo dessa informação. “Ele nasceu no Brasil mas o pai e a mãe morreram”, explicou Teresa Rodrigues garantindo que ouviu isso de quem o criou, “uma prima de Paradinha de Outeiro mas que também morreu há muitos anos”.

O casal tem cinco filhos, mas apenas dois vivem com o casal, numa casa oferecida pela Assistência Social. Quem garante as despesas é a reforma de Teresa Rodrigues e a pensão de um dos filhos, portador de deficiência. Para a mulher de Benjamim Fidalgo o que recebem por mês não chega e para contornarem as dificuldades financeiras fazem o que podem. “Cozemos umas batatinhas para nos governarmos, senão morríamos à fome”, lamenta-se. A matriarca da família conta ainda que também só tem contado com algumas ajudas esporádicas. “Noutro dia veio aqui a Cruz Vermelha trazer uns quilinhos de arroz, massa e açúcar”, afirma. Já da parte da Assistência Social, Teresa Rodrigues diz estar à espera de uma carta, mas que até agora “ainda não vi nada”.

 

Com uma pensão que não chega aos 250 euros, Teresa Rodrigues confessa que as despesas com a luz e alimentação são as que mais lhe custam a suportar.

 

Fonte da Segurança Social, contactada pela Brigantia, garantiu que o caso vai ser resolvido o mais breve possível, uma vez que o Registo Civil já encontrou a certidão de casamento de Benjamim Fidalgo.

Sem querer prestar declarações gravadas, a mesma fonte acrescentou ainda que a Conservatória do Registo Civil de Bragança está a diligenciar junto dos serviços centrais, de modo a garantir a identificação do octogenário.