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Em Alimonde e em Caravela (Bragança) ainda se cumpre a fé e a tradição

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Seg, 21/01/2019 - 09:48


Dizem que a fé move as pessoas e ontem fomos ver de que maneira ainda se vai mantendo viva em duas aldeias do concelho de Bragança

É no domingo mais próximo ao dia 15 de Janeiro que, na freguesia de Alimonde, em Bragança, se continua a celebrar a fé no Santo Amaro. Os sinos da capela voltam a ouvir-se na aldeia e chamam todos os devotos à festa. Ao santo, que se diz ter nascido em 513, são-lhe atribuídos diversos milagres. “Eu e a minha prima vimos às festas desde crianças. Era festa, mas nesse tempo era festa mesmo, mas a religião ficou sempre”, explicou a devota do santo, Engrácia. “Eu caí de um freixo aqui ao lado do santo, a seis metros de altura, e estou aqui. Acredito muito no Santo Amaro”, contou Paulo Trigo, natural de Alimonde. “Peço-lhe graças e ele concede-me. Prometi ao Santo Amaro que enquanto tivesse vida e pudesse que vinha cá”, disse Maria José que veio da aldeia vizinha de Carrazedo. Depois da missa começa o arremate do fumeiro e de outros produtos oferecidos em cumprimento de promessas feitas ao santo como conta um dos três mordomos da festa, Manuel Pires. “Sou eu que recebo as esmolas e de seguida recebo o dinheiro do arremate. Todo o fumeiro que vem para aqui, desde a chouriça, desde a orelha ao pé de porco, depois é arrematado. Se promete uma esmola tem que a vir cá trazer se não depois o santo castiga”.

Depois de 35 anos na França, Maria Inácia e o marido voltaram à terra e, desde aí, dado o abandono em que estava o santuário e o recinto, têm-se dedicado a tratar da “casa” do Santo Amaro. “Viemos para cá em Setembro de 2002 e em Janeiro de 2003 meteram-nos logo de mordomos daqui. Depois começámos a fazer trabalhos porque era preciso fazê-los. Estava tudo abandonado praticamente. Ajudou-nos alguma coisa a câmara e o resto investimos nós. É património da aldeia, era pena deixá-lo perder”.

Por Alimonde, depois da missa e de arrematado o fumeiro, é na fogueira, que se acende logo de manhã, que são assados os enchidos e depois passa-se a tarde em convívio. Mas a nossa viagem não fica por aqui.. Em Caravela, também em Bragança, o dia de ontem é dedicado ao São Sebastião. Filho da terra, Evangelista Romão, conta que toda a gente se reúne para se saberem números. “É um conselho, é onde se fazem as contas de todo o ano. O essencial desta festa é o conselho, tem que estar toda a gente. Toda a gente tem que saber, são lidas as contas. É o dia das contas do povo”.

Feitas as contas é hora de arrematar o que os devotos entregam ao santo que se acredita proteger os animais. Um trabalho que era feito, como explica Sara Romão, pelo mordomo da festa. “Cada um dava aquilo que queria. O mordomo tinha que se preocupar em andar a arranjar os cestos e dar a volta à aldeia, depois trazia para a casa do povo para ser arrematado no conselho”.

Além do fumeiro, antigamente arrematavam-se as terras e as eiras das almas mas nesses tempos havia mais gente, recorda Catarina Freitas. “Tenho oitenta e tantos anos e sempre vim à festa. Antigamente havia mais gente e até vinha de fora a arrematar”.

Por Alimonde continua a cumprir-se a fé no santo que se acredita que curava os ossos partidos e por Caravela, é no dia de São Sebastião que são conhecidas as contas e que se angaria dinheiro para continuar a manter de pé os locais de culto.

Escrito por Brigantia

Jornalista: 
Carina Alves e Susana Madureira