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“Cada dia que passa estamos numa situação considerada mais grave, porque vai havendo consumos de água e não há reposição”

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Qua, 15/11/2017 - 10:16


O período de seca que a Península Ibérica atravessa continua a estar na ordem do dia e os alarmes da preocupação dispararam desde que foram divulgadas imagens da nascente do rio Douro seco. Em declarações ao Jornal Nordeste, Carlos Martins, Secretário de Estado do Ambiente, confessou-se “preocupado” pela situação que a região ibérica atravessa. 

Este é um problema que, historicamente, poucas vezes se viveu no último século. O Secretário de Estado do Ambiente referiu que este ano anormal não deixa margem para grandes suposições sobre até onde o problema nos vai levar, pois“ mesmo nas secas anteriores era normal a partir de Outubro, as coisas terem um caminho diferente.” Já em 2005 o país também atravessou um período complicado com a falta de chuva, que foi colmatado com uma “pluviosidade significativa” no final de Outubro, que continuou nos meses seguintes. Este ano, já vamos em meados de Novembro e ainda não há perspectivas de que chova durante as próximas semanas, muito menos de forma expressiva.
“Cada dia que passa estamos numa situação que podemos considerar mais grave, porque vai havendo consumos e não há reposição”, manifestou-se apreensivo Carlos Martins. Todavia, assegura que ainda há reservas de água superficiais, para abastecimento público, para um período significativo (cerca de 1 ano), mas as populações que dependem de água subterrânea já estão “numa situação crítica.”
Uma situação que está a ser acompanhada desde Maio e que rapidamente se alastrou a todo o território de Portugal Continental e por isso é “necessário planear a forma como se faz a gestão das reservas de água de forma a prolongar a sua utilização por o máximo de tempo possível.” O secretário de Estado do Ambiente diz que “é preciso mudar os comportamentos das pessoas em relação à água.” Sublinha a questão do sector agrícola onde “o problema se põe com maior acuidade.”
Se ainda há reservas para o abastecimento público, para a agricultura a situação pode não ser a mesma. “A agricultura consome 10 vezes mais água do que os 10 milhões de portugueses e por isso e por isso é uma actividade que conseguimos manter até meados de Outubro com as culturas que terminavam nessa época como as vinhas, oliveiras, cereais, melão, tomate. Conseguimos usar a água, embora com algum cuidado, onde era mais grave, fizemos uma gestão da água em parceria com os regantes”, começou por explicar.
A questão que se impõe neste momento é que o problema é que as reservas que há estão guardadas para o abastecimento público, que é o primeiro critério de prioridade, e a agricultura e a pecuária como ficam?
“ Nós já há muito tempo que deixámos de produzir energia hidroeléctrica, agora pode-se por problema de algumas culturas não terem sementeiras que podiam ocorrer nesta altura porque não há condições para elas germinarem”, explicou.
Carlos Martins acrescentou ainda que quanto aos animais, há produtores que têm manifestado o desejo de “quando os animais são de abate e já estão em condições de poderem ser valorizados para que o abate se promova. Quando são de outra natureza pode tentar-se promover a sua venda ou encontrar algumas captações subterrâneas, mas infelizmente as águas subterrâneas, em territórios onde as pessoas se dedicam à agricultura e pecuária, não há condições para garantir que durante muito tempo se possa manter esse equilíbrio.”  Portanto admite que nessas regiões se vivam momentos de “alguma preocupação.”
A solução poderá passar, no futuro, por repensar as técnicas agrícolas de forma a fazer um aproveitamento mais eficaz dos recursos , como por exemplo rega por sistema gota a gota.